A manhã de protestos em Porto Alegre teve pelo menos quatro manifestantes e um jornalista feridos por disparos de bombas de efeito moral. Na Rua Sarmento Leite, a servidora federal Rejane Machado foi atingida na perna direita por estilhaços de um bomba de efeito moral. Na Avenida Bento Gonçalves, uma assistente social, que não quis se identificar, e a funcionária da Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag) Daliane Machado Severo tiveram as mãos cortadas por estilhaços de bomba. Um cinegrafista da Band também sofreu escoriações. Houve ainda relatos de pessoas machucadas por balas de borracha.
Leia mais:
Por orientação de Schirmer, BM endurece reação a protestos
AO VIVO: protestos contra medidas do governo federal bloqueiam ruas
Escolas de Porto Alegre fecham em protesto contra PEC dos gastos
As manifestações foram convocadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). A entidade deflagrou nesta sexta-feira o que chama de Dia Nacional de Greve contra medidas do governo federal, como a discussão da proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos. No Rio Grande do Sul, também houve protestos contra a reforma do Ensino Médio e iniciativas de redução da máquina pública do Estado, como a extinção da Corag.
Desde o início da manhã, sindicalistas e estudantes bloquearam vias, principalmente as Avenidas Ipiranga e Bento Gonçalves, na zona leste da Capital, além da Rua Sarmento Leite, no entorno da Redenção. Orientados pela Secretaria de Segurança Pública a liberar o trânsito, soldados do Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar avançaram em formação sobre os ativistas, jogando bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
Na Sarmento Leite, os manifestantes revidaram jogando pedras nos brigadianos. Em meio à fumaça das bombas, eles recuaram, abrigando-se na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Lá dentro, uma rápida assembleia decidiu suspender a mobilização até o início da tarde. Eles assaram salsichões para comer com pão e organizaram uma caminhada até a Assembleia Legislativa, onde uma audiência pública irá discutir o teto de gastos.
– No final da tarde vai ser maior – conclamava a coordenadora do Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UFRGS, Bernadete Menezes.
Ao lado dela, sentada em um banco de concreto da universidade, Rejane Machado suportava a dor do hematoma na perna direita, sofrido após ser atingida por estilhaços de uma bomba. Do outro lado da cidade, Daliane Severo também padecia de ferimento semelhante. Ele sofreu arranhões no rosto e um corte na mão direita, provavelmente causados por estilhaços do dispositivo. A assistente social também ficou ferida em outra explosão. Ela sofreu um corte profundo na mão esquerda e precisou levar nove pontos.
– Estávamos negociando a liberação de uma pista quando o Pelotão de Choque avançou e uma bomba explodiu. Sofri um corte e um pedaço de metal com quatro centímetros entrou na minha mão. Foi uma violência desnecessária – diz a servidora.
O local estava tomado majoritariamente por servidores do Estado. Com instrumentos musicais, apitos, faixas e cartazes, eles denunciavam a intenção do Piratini de extinguir a Corag e fechar o Hospital Sanatório Partenon e o Hospital Psiquiátrico São Pedro. Eles fecharam uma das pistas da avenida, mas foram impedidos de bloquear totalmente o trânsito por um cordão de isolamento montado pela BM. Por volta do meio-dia, os manifestantes deixaram o local.
– Nossa preocupação é com o fim da tarde quando um ato está previsto para a Esquina Democrática. Devemos empregar mais de cem homens. Todo mundo pode se manifestar livremente, só não vamos permitir obstrução de vias e dano ao patrimônio. Se isso ocorrer, vamos intervir – avisou o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Marcos Vinícius Gonçalves Oliveira.