Na quarta-feira, assim que desembarcou em San Juan vinda de Los Angeles, na Califórnia, Marlene Martins da Rocha precisou ser hospitalizada devido a uma crise nervosa que lhe abateu pela morte dos filhos. Sua última aparição foi no sábado para o reconhecimento dos corpos, ainda assim em segredo para evitar que a imprensa tivesse acesso a ela. De Forquilhinha, a avó das crianças informou que a esteticista e empresária está na casa de uma amiga e que a família deve definir nesta semana se algum parente virá acompanhá-la em Porto Rico. Marlene, como é de se compreender neste momento, não está dando entrevistas.
O desconhecimento do consulado do Brasil em Miami quanto ao destino dos corpos é respaldado pelas autoridades portorriquenhas. De acordo com a imprensa local, até sábado o Departamento de Estado não havia recebido nenhuma solicitação para o traslado dos cadáveres do menino Erick e das meninas Eileen e Emmanelis para o Brasil. Entretanto, a representante do Instituto de Ciências Forenses (equivalente ao IML), Cinthya Santiago, afirmou que já estão havendo encaminhamentos para que isso ocorra, embora não soubesse confirmar quando.
De certo, mesmo, além da comoção pelos assassinatos, é a polêmica desencadeada entre a opinião pública portorriquenha pelo fato de o pai que matou os filhos ter sido denunciado antes por violência doméstica. Dois dias após o crime, a Procuradora das Mulheres no país, Wanda Vásquez, afirmou que não tinha dúvidas de que o sistema de proteção à integridade da família e dos menores falhou. Segundo ela, o protocolo a ser seguido nesse tipo de caso não foi obedecido.
– Uma das filhas disse que ele (o pai) agarrou a mãe (Marlene) pelos cabelos, a jogou no chão e lhe apertou o pescoço. Se ela estiver correta, foi a mesma coisa que acabou fazendo com os filhos – declarou. Wanda disse também que, nesses casos, a determinação seria começar os procedimentos junto ao Departamento de Família para que o comportamento de Erik não colocasse as crianças em risco. O fiscal distrital de Ponce, Richard Rosado Jimenez, defendeu-se alegando que a investigação agiu conforme os parâmetros legais e que a mãe das vítimas garantiu que o marido era um pai carinhoso.
Após a segunda vez em que denunciou Erik, em 10 de outubro, foi expedida uma ordem de proteção a Marlene – que, no entanto, não se opôs a ele continuar tendo contato com os filhos. Tanto é que, ao viajar para um treinamento nos Estados Unidos, os três ficaram aos cuidados da avó paterna na casa em que o marido morava.
Polícia diz que cartas não revelam motivação
Havia expectativas de que algumas cartas deixadas pelo portorriquenho Erick Seguinot Ramires ajudassem, se não a justificar, a explicar as motivações que o levaram a matar os três filhos que tinha com a catarinense Marlene Martins da Rocha e se suicidar em seguida. O diretor do Corpo de Investigações Criminais de Ponce, tenente-coronel Carlos Cruz, porém, minimizou o impacto que o conteúdo delas poderia causar no desenlace do crime.
– Não há nada de novo nas cartas. São antigas, sem relevância ao caso. A polícia não irá se aprofundar nisso – disse ele ao jornal Primera Hora.
Com a decisão, permanece o mistério pelo qual todos os habitantes da cidade se perguntam: por quê? Na praça central, onde a catedral de Nossa Senhora de Guadalupe é cercada por casarios coloniais restaurados que hoje abrigam bares e restaurantes, a inconformidade do taxista Tony Kuxi, 54 anos, resume o sentimento geral da população:
– Se ele (Erick) estava deprimido, que se matasse, não aos filhos! É um… – acusa, e solta um palavrão que dispensa o dicionário de espanhol para ser entendido.
A possibilidade de se confirmar ao menos a forma com que as crianças foram mortas será revelada pela autópsia, mas até nisso há desencontro de informações. No Istituto de Ciências Forenses, foi dito que o processo ainda nem começou. Mas o tenente-coronel assegurou que nesta semana terá o resultado.
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