Na manhã desta segunda-feira, estudantes que ocupam o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em protesto contra a PEC do Teto decidiram permanecer no prédio depois que, na sexta-feira, um grupo de alunos pediu a retomada das aulas.
A resposta, por escrito, foi lida em voz alta no Campus do Vale em meio à tensão que marca a divisão entre estudantes da maior universidade gaúcha. Na última sexta-feira, defensores da desocupação tentaram entrar no prédio do IFCH, mas foram impedidos por um cordão de isolamento que incluía a presença de professores. Segundo a estudante de Engenharia da Computação Laís Karsburg, 18 anos, o objetivo era negociar a liberação do primeiro andar do prédio, ou pelo menos de algumas salas para disciplinas que envolvem outros cursos.
Os estudantes que fazem a ocupação se comprometeram a discutir o assunto em assembleia no último domingo e marcaram de entregar a resposta em forma de nota – no mesmo horário em que o outro grupo havia convocado uma mobilização no Facebook, na manhã desta segunda-feira.
Enquanto combinavam o trâmite para isso – a ideia era que um mesmo número de representantes dos dois movimentos estivesse presente na entrega da nota –, um grupo em favor da desocupação fez a volta no prédio. Foi o bastante para os ânimos se exaltarem dos dois lados: o grupo argumentou que buscava um espaço mais propício para dialogar, enquanto os ocupantes encararam a ação como uma tentativa de entrar no prédio.
Após momentos de tensão, o grupo de ocupantes entregou a nota e a leu em voz alta enquanto alunos de ambos os lados gravavam tudo com celulares:
– Tendo em vista nossas estratégias de autodefesa e a manutenção do caráter de incentivo à paralisação geral em protesto às propostas em trâmite no Senado Federal, decidimos (...) que não liberaremos qualquer sala de aula atualmente ocupada – disseram os ocupantes, que não se identificaram e se manifestam apenas por sua página no Facebook.
Estudantes contrários à ocupação dizem que irão à AGU
Conforme Gabriel Carneiro da Fontoura Argiles, estudante de Engenharia Civil de 18 anos, o grupo que coordena a página Eu digo NÃO à invasão na UFRGS vai se reunir e providenciar uma tréplica. Além disso, o movimento pretende acionar a Advocacia-Geral da União (AGU), seguindo o que fizeram estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG). Lá, um juiz decidiu favoravelmente à reintegração de posse de salas de aula na última sexta-feira.
– Não estamos falando da PEC. Muitos de nós, inclusive, são contra ela. Só que somos contra a ocupação. Não vemos relação entre a ocupação do IFCH e os senadores, eles não vão mudar de ideia por isso. Só queremos ter aula – justifica Argiles.
Na sexta-feira, esse mesmo grupo entregou uma representação Ministério Público Federal (MPF) pedindo a desocupação. Segundo a assessoria de comunicação do órgão, ainda não há nenhuma novidade em relação a esse caso.
– O procurador vai oficiar a UFRGS para que ela se manifeste sobre o assunto para depois, com base nessas informações, decidir o que fazer – respondeu o MPF.
Em meio ao conflito gerado e gerido pelos próprios alunos, circulavam alguns professores e membros do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-UFRGS). Segundo o presidente da entidade, Mathias Luce, eles apoiam a ocupação da universidade, pois são contra a PEC do Teto. No entanto, defendem o diálogo.
– O movimento em favor da desocupação é formado por vários grupos diferentes. Alguns querem diálogo, outros não. Estamos aqui pra ajudar a mediar o conflito – disse Luce.
* Zero Hora