A Operação Mala Direta, deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira, prendeu o operador de empilhadeira Edson Andre Silva, o Sukita, sob suspeita de integrar organização criminosa que montou um esquema paralelo de postagens nos Correios em São Paulo – o rombo estimado alcança R$ 647 milhões. A PF descobriu que Sukita ganha salário mensal de cerca de R$ 1,5 mil, trabalhando nos Correios, mas em um período de dois anos movimentou R$ 2,5 milhões na conta.
Sukita, 42 anos, concorreu a uma cadeira na Câmara do município de Francisco Morato, na Grande São Paulo. Teve 532 votos e não se elegeu. Segundo a PF, ele é um dos seis funcionários dos Correios capturados na Mala Direta sob suspeita de corrupção passiva – Sukita é operador de empilhadeira, segundo a PF.
Três empresários também foram presos – um quarto está foragido. A Justiça Federal bloqueou R$ 13 milhões da organização.
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– Um único empregado dos Correios, com salário de aproximadamente R$ 1,5 mil, movimentou no período de dois anos a quantia de R$ 2,5 milhões em sua conta bancária – informou o delegado Alberto Ferreira Neto, que integra a força-tarefa da PF na Mala Direta.
O delegado não informou o nome dos empresários e nem dos funcionários dos Correios – a PF não divulga a identidade dos investigados. A reportagem apurou entre advogados que o alvo com movimentação milionária, preso na Mala Direta, é Edson Sukita.
– Esse funcionário, com quase 10 anos de Correios, lidava diretamente com os empresários – destacou Ferreira Neto. – Quando pegamos os salários desses empregados e verificamos o padrão de vida deles constatamos a total incompatibilidade com o patrimônio. Esse funcionário que movimentou R$ 2,5 milhões não fez nenhuma declaração ao Imposto de Renda. Os rendimentos desse empregado de aproximadamente R$ 1,5 mil chamaram muito a atenção – acrescentou.
Sukita não declarou os ativos à Justiça Eleitoral, quando registrou sua candidatura a vereador pelo PMDB. Declarou apenas a posse de um Honda CRV avaliado em R$ 94 mil e uma casa de R$ 240 mil, ou seja, patrimônio total de R$ 334 mil .
A PF apreendeu duas carretas e dois semirreboques com Sukita. Ele estava investindo na constituição de uma empresa de transportes. Com autorização judicial, a PF fez ação controlada – seguiu por vários dias os empresários e servidores dos Correios e flagrou encontros para pagamento de propinas.
A PF iniciou a investigação há cerca de dois anos, sob comando dos delegados Thiago Borelli Thomaz e Alberto Ferreira Neto, ambos da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários.
Mala Direta mobilizou uma centena de policiais federais que cumpriram 19 mandados de buscas, três de condução coercitiva e nove de prisão temporária, três empresários e seis funcionários dos Correios, pelo prazo de cinco dias. Um quarto empresário está foragido.
Um funcionário dos Correios foi preso na sede central no Jaguaré, zona oeste da Capital. Outro na sede da Moóca. Os outros quatro servidores foram localizados em suas casas. A PF apreendeu R$ 100 mil em dinheiro vivo nas buscas realizadas, além de 16 veículos e quatro armas de fogo. A ação da PF foi executada na Capital e em municípios da Grande São Paulo – Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes, Mogi Mirim e Francisco Morato
A Justiça Federal autorizou também interceptação telefônica dos investigados e a quebra do sigilo fiscal e bancário de todos.
– O afastamento do sigilo fiscal e bancário comprovou o repasse de dinheiro dos empresários diretamente para a conta dos funcionários corrompidos – anotou Ferreira Neto.
Em algumas operações, o dinheiro chegava às mãos dos servidores por meio de "laranjas".
– Prendemos corruptos e corruptores – declarou o delegado federal Alberto Ferreira Neto.
A PF suspeita que outros empresários estão envolvidos com a organização desmantelada por Mala Direta.
– Mais quatro ou cinco empresários, pelo menos, estão na mira das investigações.
O esquema de postagem clandestina pode ter sido adotado em outros Estados, suspeita a PF. Segundo Ferreira Neto, as empresas envolvidas na Mala Direta "são de médio porte, mas conhecidas no meio, todas especializadas no manuseio de correspondências contratadas por bancos e grandes empresas que atuam com o sistema".
O delegado observou, ainda, que os funcionários presos que ocupavam cargos de coordenação se valiam dessa condição "para inclusive inserir dados falsos no sistema de informação dos Correios".
Ferreira Neto informou que foram apreendidos 85 mil selos falsos na casa de um empresário – o material estava escondido na churrasqueira da residência. Ele destacou que cada postagem compreendia um volume de até 200 mil correspondências "sem nenhum tipo de faturamento":
– Para se ter uma ideia da dimensão do golpe, uma correspondência custa R$ 1,70. Esses empresários que trabalham com manuseio, com entrega de boletos via mala direta, ofereciam esse mesmo serviço a 12 centavos. Ou seja, se os Correios fazem a R$ 1,70, os empresários não conseguem fazer a 12 centavos. Esse dinheiro entrava para os empresários. Os Correios não tinham nenhum lucro com isso.
O delegado informou que a Gerência de Segurança dos Correios identificou algumas correspondências sem o faturamento e comunicou a Polícia Federal, "já indicando empresas".
A reportagem não localizou a defesa de Sukita.