Há uma semana, o paradeiro do casal Marcelo Martins Moreira, 49 anos, e da mulher dele, Joceli Ana Pereira, 58 anos, é um mistério. As buscas começaram na última sexta-feira e foram retomadas na manhã desta segunda, pelo quarto dia consecutivo, na região da Lagoa dos Patos.
As primeiras pistas de um possível paradeiro dos moradores de Guaíba chegaram no final de semana. Um pescador avistou, no domingo, uma embarcação parecida com a lancha "Só Jotas" (foto abaixo), comprada pelo casal com esse nome há cerca de quatro meses.
Na manhã desta segunda-feira, militares da Marinha do Brasil, auxiliados por bombeiros voluntários de Tapes, iniciaram um plano de buscas. O objetivo era ir até Farol Cristóvão Pereira, cerca de 50 quilômetros distante da margem onde o reboque da lancha foi encontrado, próximo a Mostardas. Até agora, o casco avistado pelo pescador é a única pista concreta.
A vigília à beira da lagoa é angustiante como o vento, que corta a pele mesmo sob o forte calor dos últimos dias. Familiares e amigos caminham pela costa. Sentam em pequenos grupos. Oram. E choram entre a recordação de lembranças dos últimos contatos com o casal (foto abaixo).
Márcia Martins Moreira, professora de 48 anos, conta que o irmão Marcelo e a mulher, moradores de Guaíba, estavam alojados desde a noite de sexta, dia 2, na cabana que possuem no Camping Orlando Nogueira Ramos, parte da agremiação militar Geraldo Santana, em Tapes. No domingo, Joceli contou a uma cunhada que ela o marido atravessaria a lagoa para acampar na outra margem. A uma amiga de quatro décadas de São Leopoldo, reclamou que não conseguia entender a interlocutora por conta do chiado do vento.
Foi às 18h11min de segunda-feira, dia 5, que foi feito o último contato com o casal. Durante a chiada conversa, Joceli contou a outra amiga que estava pescando na Lagoa dos Patos junto do marido. Disse que estava chovendo e reclamou do vento. No entanto, não deu detalhes da localização exata de onde estavam.
– Estamos insistindo que façam a quebra do sigilo telefônico para descobrir onde eles estavam na última vez que usaram o celular. Achamos que isso pode ajudar a encontrá-los. Mas as autoridades não estão colaborando e, inclusive, combustível e comida é a nossa família quem está fornecendo aos voluntários – disse Márcia.
Segundo ela, o casal pretendia deixar Tapes na quarta-feira da semana passada e passar por Mariana Pimentel, onde moram familiares para cumprir um compromisso pessoal. Mas não aparecerem. Janaína Lisboa, 41 anos, tentou contato durante toda a semana, mas não teve sucesso.
– Minha mãe estava agoniada sem conseguir falar com ela depois de domingo. Aí falamos com o João pelo Facebook na quinta e começamos a procura – conta Janaína, que está de plantão à beira da lagoa.
João Pereira, 30 anos, é filho de Joceli e foi quem registrou ocorrência por desaparecimento na sexta-feira, dando início às buscas. A demora no registro é explicada pela suposição de que o único problema era a falta de sinal telefônico. Marcelo também tem um filho de um relacionamento anterior, que se chama Felipe, de 16 anos.
Conforme a delegada Liliane Pasternak Kramm, a polícia está aguardando uma decisão judicial com relação à quebra de sigilo telefônico.
– O objetivo é tentar identificar o local onde foi feito contato telefônico pela última vez. Mas não necessariamente é onde eles estiveram pela última vez – salienta ela.
O caso é tratado como desaparecimento e não há hipótese de crime até o momento, até porque, segundo a delegada, todos os pertences deles estavam na cabana ou próximo. A caminhonete, alimentos, telefone. Tudo junto à cabana. Os únicos objetos que a família não encontrou foi a barraca de camping e as roupas emborrachas usadas para pesca – o que provavelmente estaria com o casal.
De acordo com o bombeiro voluntário Edgar Oppitz, toda a região chamada de Saco de Tapes foi vasculhada por terra e água – nas condições limitadas da corporação. Com o vendaval da semana passada, entre terça e quarta-feira, é provável as rajadas de até 100 km/h tenham empurrado a lancha de pequeno porte para a parte mais profunda e ampla da Lagoa. Com isso, tiveram de esperar o reforço das embarcações da Marinha e também de um helicóptero.
A Marinha solicitou aos pescadores e navegadores que tenham informações que possam ajudar nas buscas que entrem em contato com a Capitania dos Portos, pelo telefone (53) 3233-6119.