Terminou em 31 de julho a temporada de pesca da tainha no litoral catarinense, e os resultados estão sendo comemorados pelos pescadores artesanais. De acordo com a Federação dos Pescadores de Santa Catarina (Fepesc), foram capturados 3.542 toneladas do pescado na modalidade artesanal, maior quantidade dos últimos 40 anos.
A Ilha de Santa Catarina, que contempla toda a região da Grande Florianópolis, capturou o maior número, com 1.179 toneladas, o que corresponde a cerca de 33% da safra. Em segundo lugar ficou a cidade de Laguna, com 542 toneladas, seguido de Bombinhas, com 295 toneladas.
O presidente da Fepesc, Ivo Silva, comemorou a safra recorde e atribuiu os bons números ao frio:
– Este ano o tempo colaborou muito, o frio chegou cedo e foi duradouro, o que traz a tainha pro nosso litoral. Se você olhar o balanço por mês, em maio tivemos 2.370 toneladas, enquanto junho já caiu para 1.094 e julho foram 78 toneladas – disse.
Em Florianópolis, a Barra da Lagoa ficou em primeiro lugar, com 841 toneladas, seguido dos Ingleses, com 156 toneladas, Retiro da Lagoa, com 35 toneladas e Pântano do Sul, com quatro toneladas. Ivo explica que a contabilidade é feita por onde o pescado é descarregado:
– Na Lagoa não tem tainha, mas temos embarcações que descarregam ali. A conta é feita assim pois temos as embarcações com rede anilhada que saem para outras praias – explicou.
Fepesc vai a Brasília na próxima semana
Na próxima semana, representantes da Fepesc tem uma reunião agendada com o secretário da pesca do Ministério da Agricultura para tratar da pesca da tainha. Ivo Silva explica que o objetivo é preparar a safra com mais antecedência, para evitar os problemas recorrentes de falta de licenças para os pescadores:
– Queremos começar a discussão mais cedo, para que em março já esteja tudo certo e o pescador consiga se preparar, saber se pode investir em rede.
Em 2016, pescadores artesanais de rede anilhada tiveram problemas para obter licenças, assim como pescadores industriais. O principal motivo alegado pelo governo é que muitas embarcações teriam pescado em áreas proibidas no ano anterior.
A Fepesc também vai pedir que sejam feitos mais estudos técnicos e estatísticos da pesca, para evitar especulações sobre o fim da espécie:
– Na pesca artesanal, somos nós que fazemos as estatísticas com o apoio das colônias. Falta pesquisa para saber a situação real – desabafa.
Pesquisas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) indicam que a população de tainha vem diminuindo no litoral sul do Brasil. Em entrevista ao Hora de SC em 16 de junho, o oceanógrafo Paulo Ricardo Schwingel, pesquisador do Grupo de Estudos Pesqueiros (GEP) da (Univali), fez o alerta:
– Se não houver um ordenamento da pesca, nós podemos levar, ao longo dos anos, a um colapso da pescaria. Obviamente que isso não acontece de um ano para o outro, mas ao longo de gerações. A tainha vive cinco anos na Lagoa dos Patos, depois vai para o mar desovar. Então, de duas ou a três gerações, ou seja, 10 a 15 anos, já podemos ter um resultado bem nocivo – explicou.