Apesar do bloqueio promovido por familiares de PMs em frente a 43 unidades da Brigada Militar e do fechamento de muitas escolas, a paralisação promovida pelos servidores públicos estaduais ocorreu sem grandes transtornos na manhã desta quinta-feira. Bancos estão abertos e há até mais policiamento nas ruas do que em dias normais. Contribuíram para isso duas estratégias desenvolvidas pelo comando da BM. A principal: o Estado-Maior da BM aumentou o efetivo de Porto Alegre, mediante troca nos horários e nos turnos do policiais. Conforme o subcomandante-geral da BM, Andreis Silvio Dal'Lago, a precaução resultou em acréscimo de 35% no efetivo policial, em relação aos dias convencionais.
Outra tática foi antecipar o deslocamento dos policiais que entrariam de manhã nos batalhões. Eles foram levados para diversos pontos de Porto Alegre, no intuito de evitar que os manifestantes impedissem suas saídas às ruas. Exemplo disso é que uma guarnição foi encaminhada para a Arena do Grêmio, onde pernoitou antes de assumir o posto às 7h. Dal'Lago considera as manifestações legítimas, desde que não deixem a população à mercê do crime.
Zero Hora e Rádio Gaúcha visitaram os principais batalhões da Capital e o clima era de tranquilidade, apesar da revolta dos servidores com o atraso nos salários. No 9º BPM, no bairro Praia de Belas, ocorreu uma das maiores manifestações de parentes e servidores, que ameaçaram bloquear a saída de viaturas, o que acabou não se concretizando. O efetivo foi reforçado. Na Grande Porto Alegre, ocorreram protestos em cinco quartéis. No Interior, em 33 cidades. Foram registrados, ao todo, 43 bloqueios de unidades da BM. Alguns servidores, ao invés do bloqueio, optaram por chamar a atenção de outra forma. Em Três Passos, no noroeste do Estado, um sargento reservista da BM se vestiu de palhaço e se acorrentou a uma agência do Banrisul.
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Ocorreram também manifestações de familiares de PMs e policiais civis na Praça da Matriz. Eles fizeram vigília durante toda a madrugada e ao longo do dia. O protesto é contra os seguidos atrasos de pagamento de salário por parte do governo estadual.
A Polícia Civil paralisou mais as atividades do que a BM. Moradores de Porto Alegre enfrentam dificuldades ao longo do dia para registrar ocorrências no Palácio da Polícia. Os agentes só atendem casos de crime hediondo, além de delitos contra crianças, idosos e mulheres (Lei Maria da Penha). O Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do RS (Ugeirm) orientou a categoria a manter em atividade apenas 30% dos servidores nas delegacias do Estado. Duas mulheres que foram assaltadas tentaram, sem sucesso, registrar ocorrência durante a madrugada.
Atendente em um café na Avenida Borges de Medeiros, Aécio Rodrigues dos Santos, 28 anos, acredita que, no início da manhã, havia menos movimento no Centro Histórico:
– Só quem precisa vem pra cá, pelo medo da insegurança, pelas orientações para não sair de casa.
Às 7h30min, o retificador Manoel Roberto Viana, 62 anos, estava na Rua Marechal Floriano Peixoto com a mulher, que trabalha na região.
– Acho que não mudou nada, tenho visto a Brigada Militar circulando. Mas estamos na expectativa, tomara que continue assim ao longo do dia – afirmou.
Silvio Machado da Silva, engraxate nas proximidades da Esquina Democrática, acredita que o policiamento foi intensificado.
– Há mais carros e motos da Brigada Militar. De resto, está tudo igual, lojas abertas, ônibus cheio e o mesmo movimento – relatou o trabalhador de 47 anos.
Esperando a abertura da agência do Banco do Brasil em frente à Praça Montevidéu, Daiany Pires também percebeu maior presença de policiais militares.
– Vi mais aqui no Centro e na Zona Sul. Já o ônibus, o Restinga Nova Rápida, estava vazio às 7h55min – contou a auxiliar de loja, de 31 anos, que entrou no banco pouco depois das 10h.
As entidades sindicais da segurança pública prometem divulgar em breve um balanço da paralisação.
Outro setor onde a mobilização dos servidores públicos foi grande é no ensino. A vice-presidente do Cpers-Sindicato, Solange da Silva Carvalho, considerou um sucesso a adesão dos educadores ao movimento. Na manhã desta quinta-feira, pelo menos seis instituições da Capital visitadas pela reportagem estavam fechadas. São elas: Colégio Júlio de Castilhos, Escola Leopoldo Tietbohl, Colégio Afonso Emilio Massot, Colégio Protasio Alves, Instituto Rio Branco e Colégio Costa e Silva.
Dois temores não se concretizaram: o de que o sistema bancário e o de transportes não funcionassem. Os bancos abriram porque a Justiça derrubou, na madrugada desta quinta-feira, liminar anterior que impedia a abertura de agências de todo o Estado das 6h às 21h. O atendimento ao público foi decisão de cada agência e a maioria abriu, em horário normal.
Os ônibus de Porto Alegre também saíram das garagens durante a madrugada e circulam normalmente desde o começo da manhã. A exceção são os veículos da linha 376-Herdeiros, cujos motoristas aguardavam, no fim da madrugada, a presença de policiais da Brigada Militar para deixar a empresa.
O comércio também funcionou. Estabelecimentos comerciais do centro de Porto Alegre acataram a orientação do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas) para abrir as portas normalmente nesta quinta. O clima era de tranquilidade pela manhã e as lojas estavam abertas.