O vídeo gravado por uma moradora próxima da Rua Santa Flora, Bairro Cavalhada, registrando toda a abordagem, até a morte do soldado Luiz Carlos da Silva, servirá como exemplo em aulas de preparo para abordagens policiais. Entre especialistas no assunto, há unanimidade na análise do caso: a regra básica em uma abordagem é agir para sobreviver.
– Mas a decisão de atirar ou não cabe apenas ao policial que está na ação naquele momento. Não dá para dizer que ele agiu errado. A academia fala em superioridade numérica no momento de uma abordagem, mas quem já vivenciou uma situação como essa sabe que pesa o compromisso do policial – diz o instrutor do Centro de Treinamento de Técnicas e Táticas Especiais, o policial aposentado Marcos Vinícius Souza de Souza.
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Segundo ele, havia na cena do crime as circunstâncias para que o policial fizesse mais um disparo contra o suspeito como forma de contê-lo. O soldado não o fez.
– Além da técnica policial, o agente também é preparado com freios éticos e morais. O suspeito,até o momento em que se aproxima do carro, estava desarmado, e isso pode ter pesado na decisão do soldado de não atirar mais uma vez. O bandido não tem esse freio – afirma.
"A coragem lhe custou a vida"
Para o coordenador do curso de abordagem policial da Academia da Polícia Civil (Acadepol), delegado Mauro Duarte Vasconcelos, o caso expôs a necessidade cada vez maior de treinamento e inteligência no policiamento.
– O soldado foi corajoso, mas isso lhe custou a vida – diz.
Tecnicamente, ele admite que há diversas falhas na abordagem. A primeira delas, no momento de avaliar a situação.
– Quando confirmado que se trata de um carro roubado, com mais de um indivíduo, o policial sozinho precisa chamar o reforço. A decisão de agir cabe a quem está naquela situação,mas, se não chegar reforço, o melhor é não abordar, mas alertar ao policiamento. O contexto atual é de confrontos cada vez mais comuns, então,precisa pesar muito o bom senso – diz o delegado.
O vídeo mostra o momento em que um dos criminosos entra em luta corporal com o soldado, que se defende comum tiro em uma das pernas do suspeito. O criminoso ainda fica livre para chegar na porta do carro, onde estava guardada a sua arma.
– Durante todo o tempo, fica claro que o crime está no carro. O policial deveria controlar os suspeitos, afastá-los do carro e jamais entrar em luta corporal. O risco era todo para ele próprio – aponta o especialista.
A recomendação em uma abordagem policial é de que o agente sempre tenha a vantagem na posição de tiro. Quando foi atingido, o soldado estava com a arma abaixada. Ele não teve tempo de reagir ao disparo do criminoso.
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