A Polícia Civil indiciou os 10 adultos que foram detidos no dia 15 de junho durante a desocupação da Secretaria Estadual da Fazenda, em Porto Alegre. O delegado Omar Abud, titular da 17ª Delegacia de Polícia, remeteu o inquérito ao Ministério Público (MP), indiciando os suspeitos por quatro crimes: dano qualificado ao patrimônio, resistência, associação criminosa e contra organização do trabalho (impediram servidores de exercerem suas funções).
Na conclusão da investigação, Abud retirou os crimes de corrupção de menores e esbulho possessório (quando apropriaram-se de um imóvel público) por entender que não foram cometidos.
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Entre os indiciados está o repórter do Jornal Já Matheus Chaparini, além de oito estudantes com 18 anos ou mais e um cinegrafista. Segundo o delegado, apesar de Chaparini ter divulgado um vídeo em que se identifica como jornalista aos policiais militares responsáveis pela desocupação, outras imagens teriam indicado que ele participou do ato promovido pelos estudantes.
– Ele fez parte de todo aquele contexto – afirmou Abud.
O processo tramita na 9º Vara Criminal e aguarda uma manifestação do MP, que vai analisar as conclusões do inquérito. Conforme a assessoria de imprensa do MP, o arquivo chegou ao órgão na manhã desta terça-feira e foi encaminhado à 5ª Promotoria de Justiça Criminal de Porto Alegre. O prazo para que haja uma manifestação do promotor – que pode oferecer denúncia, fazer o arquivamento do caso ou pedir diligências à polícia – é de 15 dias, renováveis por mais 15.
Os 10 adultos estavam entre os 43 manifestantes detidos na ocupação da Secretaria da Fazenda, e passaram a noite no Presídio Central. Além do jornalista, foram indiciados Sheila Loureiro da Rosa, Francisca Magalhães de Souza, Bárbara Gucciardo, Marcos Leonardo Gusmão da Silva, Nelson da Rosa Pinheiro, Gabriel Fabian de Souza Severo, Neil Robinson Naiff, Kevin D'Arc Rocha e Pedro Henrique Jordão. A reportagem tenta contato com as defesas de cada um deles.
Contrapontos
O jornalista Matheus Chaparini afirmou que está respondendo por crimes que não cometeu e que isso está "mais do que documentado".
– Eu estava lá trabalhando. Fiz parte da cobertura do Jornal Já, que é o meu trabalho. Fui lá para cobrir a matéria e fui preso como manifestante.
Kevin D'Arc Rocha é fotógrafo e disse que também se identificou, assim como Chaparini, para a polícia.
– Ninguém ali ia assaltar um banco e acho que minha função era bem clara: eu queria filmar a ação dos estudantes, estava ali com uma câmera na mão o tempo todo e a função do estudantes era ocupar o prédio e seguirem com suas reivindicações, não ofereci nenhuma resistência inclusive porque eu nem imaginava que eu iria ser preso.
Os demais indiciados não foram localizados pela reportagem ou ainda não responderam aos questionamentos.