A Operação Pripyat foi desencadeada nesta quarta-feira por suspeita de que as obras de Angra 3 só foram viabilizadas mediante propina paga por empresários a dirigentes de estatais e políticos ligados ao PMDB e ao PT. Três executivos da Andrade Gutierrez, uma das empreiteiras envolvidas na construção da usina nuclear, fizeram delação premiada em que detalham os subornos. Conforme esses executivos (Flávio Barra, Flávio Gomes Machado Filho e Clóvis Peixoto Primo), o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão e o senador e ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, ambos do PMDB, exigiram propina de 3% nos contratos de Angra 3. Já 1% teria sido destinado ao PT via o ex-tesoureiro João Vaccari Neto.
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Em outra delação, Ricardo Pessoa, da UTC, afirma que houve pedidos de doação de campanha feitos por Jucá e por Renan Calheiros (presidente do Senado) e que se enquadrariam num pedido de propina feito por Lobão. A acusação é negada pelos três. O depoimento referente a Jucá e Calheiros tramita em Brasília, no STF, porque o ex-ministro e o senador têm foro privilegiado (especial). Já o de Lobão corre na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro.
Com relação ao PT, a operação é mais complexa e envolve Valter Cardeal. O gaúcho teria pedido aos consórcios vencedores de Angra 3 – a UTC integra um deles - um desconto de 10% no valor das obras. Ricardo Pessoa diz que no final os consórcios concordaram em conceder um desconto de 6%, desde que houvesse a união de ambos os consórcios em um só. O delator afirma que a destinação dos outros 4% do desconto foi para campanhas do PT:
– Othon Pinheiro alertou ao declarante que Valter Cardeal havia lhe dito que, como os consórcios de empresas de Angra 3 não haviam aceitado o desconto de 10% no preço das obras, tal como pretendido pelo Conselho de Administração da Eletrobras, tendo sido acertado um desconto de 6%, as empresas seriam alvo de solicitação de repasses por parte do PT – relata delação de Ricardo Pessoa.
O então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba, entrou em contato e pediu a "realização de doações oficiais de campanha ao PT correspondentes aos 4% em questão", detalha Pessoa.
Com relação à Belo Monte, os dirigentes da Andrade Gutierrez disseram que os acertos de pagamento a políticos passavam por Valter Cardeal.