Convidado do projeto Em Pauta ZH – Debates sobre Jornalismo, Ascânio Seleme, diretor de Redação do jornal O Globo, conversou com colaboradores do Grupo RBS e convidados, na sede da empresa, na noite desta quarta-feira. O tema da palestra, mediada pela diretora de Redação de Zero Hora, Marta Gleich, foi Os caminhos e as apostas de O Globo para enfrentar a crise dos jornais.
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O jornalista catarinense dividiu a apresentação em três etapas: mudanças recentes, apostas atuais e projeções para o futuro, sempre destacando o caráter prioritário dado à produção de conteúdo para as plataformas online. Há dois anos, o diário carioca alterou rotinas e fluxos de trabalho, antecipando o horário de chegada das equipes, para que o site estivesse atualizado e operasse com vigor desde o início da manhã. Hoje, a redação está concentrada em oferecer aos leitores grande quantidade de conteúdo exclusivo (em reportagens especiais e investigativas) e multimídia (são 10 vídeos produzidos ao dia) – prestando-se muita atenção aos números da audiência, mas sem se curvar totalmente a isso, enfatizou Seleme. Nos segundo semestre, deve ser realizada uma ampla pesquisa para conhecer melhor os leitores, e os resultados permitirão que se façam ajustes na edição impressa.
– Antes o centro da casa, a sala de visitas, era o papel. Hoje não. Hoje o site é Deus, é o imperador, e o mobile é a luz, é o caminho – definiu o diretor de Redação. – A gente tem um carinho especial pelo papel. Ele perdeu o reinado, mas não a majestade. Ainda representa 80% das nossas receitas – acrescentou.
Seleme ressaltou que O Globo impresso continua sendo foco de esforços. Recentemente, dada a grande quantidade de notícias em um único dia, o jornal inovou, circulando com duas capas – ao pé da primeira, lia-se "continua a seguir". Quando o Senado aprovou a abertura do processo de impeachment da presidente da República, em maio, a edição em papel foi concluída apenas ao final da votação em Brasília, às 7h30min, o que fez com que o jornal com a manchete atualizada, "Dilma afastada", chegasse à casa dos assinantes às 11h30min.
– Ainda não sei se acertamos, mas essa edição vai ficar na história – observou.
Ao passar a responder a questões da plateia, Seleme foi instigado, em mais de um momento, a fazer um "exercício de futurologia". Segundo o palestrante, só será possível obter respostas a partir das próximas eleições presidenciais:
– Estamos misturando a nossa crise com a crise do país. Estamos com presidente afastada, presidente da Câmara afastado. É uma situação caótica que se reflete em todos os negócios, não só no nosso. A situação só vai ficar clara e transparente, para o bem ou para o mal, depois de 2018.
Diante de uma plateia com bom número de estudantes universitários, Seleme deixou uma mensagem para os profissionais que disputarão espaço no mercado de trabalho daqui para a frente.
– O jornalismo é uma das melhores profissões que existem, é um serviço público que a gente presta. É fundamental a responsabilidade: não errar, errar o mínimo possível, e se errar corrigir rapidamente. O futuro é incerto, não posso dizer "vai em frente que você vai ficar rico". Mas se você tiver vontade, talento e dedicação, com certeza vai fazer um trabalho maravilhoso e ser feliz.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, será o próximo participante do Em Pauta ZH, em agosto.