A cada novo taco de madeira recolhido ou doado, o funcionário público aposentado Solon Szekir, 74 anos, do Bairro Berto Círio, em Nova Santa Rita, vai compondo o sorriso de uma criança. E sorri junto: Solon, que se descobriu marceneiro por acaso, transforma em brinquedos o que viraria lixo.
Prestes a completar 25 anos, a produção anual tornou-se parte da vida do aposentado desde que o pai e idealizador do projeto, Mário Szekir, começou a fabricar brinquedos de madeira para doar aos carentes no Natal. Mesmo depois da morte de Mário, há dez anos, Solon seguiu na função. Construiu um mundo à parte na oficina localizada nos fundos de casa. De lá, ele molda, serra, lixa e pinta. Em meio à serragem, dá vida a aviões, caminhões, jipes, mobiliários para casas de bonecas e até trens.
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A cada ano, Solon produz uma centena de peças. Cada uma recebe cuidados especiais, que vão da primeira martelada até a pintura final. E o aposentado ainda encontra tempo para sempre fazer uma peça nova. Os brinquedos são distribuídos por amigos da família a crianças que moram nas áreas mais pobres da região. Mas o aposentado se nega a ir às entregas. Foi uma única vez e não suportou a emoção. Chorou tanto, que desistiu de fazer parte da etapa final. Prefere imaginar as crianças sorrindo.
O homem de rosto sisudo se desmancha quando comenta sobre a paixão pelo que faz. Os olhos marejam e faltam palavras na voz embargada de Solon, que promete jamais deixar de fabricar sonhos.
Mundo
"Fiz este cantinho para o meu pai. Depois da morte dele, assumi a função. Passo a maior parte do meu tempo aqui, fazendo brinquedos com alegria e satisfação. Esta oficina é o meu mundo!"
Sucata
"Pego apenas madeira sucateada. Meus amigos também arrecadam e me trazem os restos. Eu mesmo faço os moldes, corto, lixo, monto e pinto cada peça. Não é um trabalho simples. Levo até uma semana para finalizar um."
Tarefa
"Não é uma tarefa simples. Exige paciência e cuidado. Fico até 12 horas em cima de um único brinquedo. Levo até três dias para terminá-lo e deixá-lo benfeito, pois sei que muitos só terão este brinquedo no Natal."
Emoção
"Só fui entregar uma vez, pois não aguentei a emoção. No primeiro brinquedo que entreguei, a mãe da criança chorou me dizendo que se não fosse aquele presente o filho não receberia nada no Natal. Prometei que continuaria fazendo para alegrar as crianças. Hoje, mesmo não indo junto na entrega, sinto quando uma criança pega o presente. Fico alegre também. E, principalmente, emocionado."
Exemplo
"Não gosto de falar sobre o que faço, mas espero que o meu exemplo sirva para outras pessoas se inspirarem. Não custa muito. É só ter boa vontade. Eu pretendo fazer até o fim da minha vida."