Desde o início de julho, 400 mil pessoas que estarão no Brasil durante os Jogos Olímpicos tiveram seus antecedentes checados pelos serviços de segurança brasileiros. O rastreamento, reforçado nesta sexta-feira, é um trabalho conjunto para prevenir atentados, feito pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), pela Polícia Federal (PF) e pelas polícias Civil e Militar dos Estados onde ficarão hospedadas delegações. Eles fazem parte do recém-criado Centro Integrado Antiterrorismo – sediado em Brasília e o primeiro desse tipo em Jogos Olímpicos, segundo o governo –, que conta com a presença de agentes de diversos países, entre eles Estados Unidos, Rússia, Israel e França.
A preocupação com terrorismo cresceu diante de dois fatos. O primeiro em maio, quando o chefe da Direção de Inteligência Militar (DRM) da França, general Christophe Gomart, revelou que o grupo extremista Estado Islâmico (EI) poderia estar planejando um atentado contra a delegação olímpica francesa. A informação aparece na transcrição de um depoimento dele, durante audiência no dia 26 de maio na comissão parlamentar francesa de luta contra o terrorismo (que investiga os atentados de 2015), mas só foi revelada esta semana.
Leia mais:
Caminhão atropela multidão e deixa dezenas de mortos em atentado na França
Correspondente em Nice relata o clima na cidade após atentado
O que se sabe sobre o atentado até o momento
O segundo alerta foi despertado pelo atentado de quinta-feira em Nice. A Abin nega ter recebido da França aviso sobre possível atentado terrorista, mas a negativa pode ser apenas tentativa de conter o pânico que esse tipo de anúncio causa. É difícil que o governo brasileiro não saiba do alerta feito pela DRM, já que o entrosamento com os franceses é bom. Tanto que em novembro a PF enviou dois agentes a Paris. Um deles se tornou adido da embaixada na França. O objetivo é coleta de dados sobre possíveis ameaças à Olimpíada. Um agente da Abin também foi enviado, esta semana, a Nice para coletar informações sobre o atentado.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) ressalta que a segurança começou a ser reforçada em 5 de julho, com 85 mil pessoas para garantir proteção nas ruas do Rio de Janeiro durante os Jogos (aí incluídas tropas da Força Nacional de Segurança). Para proteger visitantes de qualquer ameaça, os serviços de segurança têm realizado verificação dos antecedentes de todos envolvidos na Olimpíada. "No total, os antecedentes de cerca de 400 mil pessoas foram avaliados, incluindo voluntários, jornalistas e dirigentes", revelou o COI há poucos dias, em nota oficial.A triagem inclui funcionários, de várias nacionalidades, que vão atuar em todos os pontos onde ocorrerão jogos. Parte das informações foi recebida de serviços policiais estrangeiros.
A Abin produziu até o momento 61 relatórios de análise de risco sobre a Olimpíada, que são mantidos em sigilo.
Fontes da Abin confirmam a Zero Hora que será feito reforço de segurança para as delegações-alvo, como é o caso da francesa, que terá atletas inclusive em Porto Alegre.Além dos 85 mil policiais e militares brasileiros, outros 250 policiais estrangeiros (de 55 países) vão compor a segurança dos jogos. Entre eles, membros dos serviços de inteligência de Bélgica, França e EUA. Isso porque foi em Bruxelas, Paris e Estados Unidos que os últimos ataques terroristas importantes ocorreram.
Leia também:
Pânico retroalimenta ações dos terroristas
A ideologia por trás do Estado Islâmico (EI)
Como o Oriente Médio se tornou fértil ao extremismo
A segurança própria (feita por agentes dos países que competem nos jogos) só é permitida para chefes de Estado. Os policiais franceses, americanos e israelenses, para ficar nos mais visados, têm inclusive direito de usar armas, desde que para proteção dos governantes de seus países. Já os atletas não gozam de proteção especial de seus conterrâneos. A segurança deles será feita, a partir do dia 24, pela PF. O efetivo designado para Porto Alegre não foi informado. As polícias militares farão o patrulhamento de vias e também o rastreamento de prédios onde ocorrerão treinos e disputas atléticas.
A PF não revela quantos policiais federais terá em cada cidade onde ficam hospedados atletas olímpicos, mas no Rio serão 4,5 mil durante a Olimpíada. Isso é sete vezes mais que os 700 usuais. Fica também no Rio o Cise (Centro de Inteligência dos Serviços Estrangeiros), que reúne representantes de cerca de 100 serviços de inteligência de outros países.
A rede de proteção antiterrorista feita para a Olimpíada está a cargo de um gaúcho, o delegado da PF Andrei Rodrigues. Ele é o secretário de Segurança para Grandes Eventos. Outro gaúcho, o também delegado federal Luciano Flores de Lima, é coordenador do Centro de Cooperação Policial Internacional, cuja função é justamente entrosar a PF no rastreamento internacional de possíveis ameaças contra os Jogos Olímpicos, a partir de informes de policiais do mundo inteiro.