Há 118 anos, o cinegrafista italiano Affonso Segretto filmou sua chegada ao Brasil ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1898. Em função desse registro, desde os anos 1970, o país comemora nessa data o Dia do Cinema Brasileiro. De lá para cá, a produção nacional passou por altos e baixos, criou seus clássicos e, depois de sua quase morte, renasceu. O contexto atual, com grandes sucessos de bilheteria, como Tropa de Elite 2 e E Se Eu Fosse Você 2, é promissor. Porém, ainda é um desafio produzir cinema no Brasil, principalmente, no interior.
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O diretor, professor e especialista em cinema Luiz Carlos Grassi, 71 anos, revela que apesar dos obstáculos, Santa Maria é o segundo maior polo de produção audiovisual do Rio Grande do Sul, com cerca de 20 curtas lançados por ano. Segundo ele, o número expressivo se deve aos produtores locais como a TV OVO, curso de Comunicação da Unifra, UFSM e produtoras independentes.
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– A cidade também foi pioneira na produção de filmes Super 8 na década de 1970, com o grupo do Departamento de Cinema do Centro Cultural. Também tivemos dois longas produzidos aqui, Manhã Transfigurada, do saudoso Sergio de Assis Brasil, e o ainda inédito Hamartia, de Rondon de Castro – recorda Grassi.
O diretor destaca, ainda, premiações locais, como o Festival de Cinema Estudantil (Cinest) e o Santa Maria Vídeo e Cinema como estimuladores do cinema local.– Também temos a Lei de Incentivo à Cultura (LIC), mas a sua burocracia desistimula a maioria dos realizadores. Para melhorar acho que a LIC municipal deveria ser desburocratizada e simplificada. Outra melhoria seria a aprovação do Plano Municipal de Cultura e a criação do Fundo Municipal de Cultura pela Câmara de Vereadores – afirma.
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O produtor de audiovisual Alvaro de Carvalho Neto acredita que Santa Maria já demonstrou capacidade de fazer cinema no interior. Manhã Transfigurada, filme produzido por ele em 2008, exibido no cinema e lançado em DVD (à venda na Cesma) é prova disso. Segundo Alvaro, os desafios não se limitam à produção, mas, também, à concorrência desigual, em que produções estrangeiras investem valores astronômicos em produção, distribuição e exibição. Apesar disso, a produção não para e os produtores não desanimam.
– Manhã Transfigurada é um marco para a produção local e também para a brasileira. Segundo o historiador Glênio Povoas, esse foi o primeiro longa-metragem realizado com equipe e elenco locais. Esse esforço deixa claro que a cidade tem uma vocação para o audiovisual – acredita o produtor.
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Alvaro afirma que produzir no interior é oneroso e desafiador, mas não menos apaixonante.– Talvez seja por esse motivo que vemos a realização de outros projetos na cidade – diz.
Cinema é criatividade e parceria
Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e uma turma. Para Marcos Borba - associado fundador da TV OVO, mestre e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática da UFSM - e para o cineasta Luiz Alberto Cassol esses são os ingredientes principais para quem quer dar o primeiro passo para produzir audiovisual.
– Com o barateamento da tecnologia de gravação e montagem, hoje é muito mais fácil produzir um filme do que nos anos 1970. Então, quem quiser começar a produzir, precisa ter uma turma junto, porque a produção audiovisual é coletiva por natureza, precisa ter boas ideias e referências, precisa conversar com quem já produz, realizar (mesmo que por amor a causa) e depois exibir, porque o cinema só se concretiza quando entra em contato com o público – afirma Marcos.
Cassol endossa o discurso e afirma que cinema é grupo, parceria e confiança mútua.– Cinema é equipe. Tem que ter uma turma de pessoas que vão trabalhar contigo. Gente que você confia e que confiam no teu projeto. Parece algo não profissional, mas é extremamente real e profissional. A confiança nos teus pares. Claro que precisa ter criatividade, mas não apenas no roteiro. Criatividade na busca de parceiros, empresas que abracem o projeto e melhorem o teu filme. Enfim, o processo todo precisa ser criativo – define Cassol.
De acordo com o cineasta, o Brasil está vivendo um momento delicado no setor, após a tentativa de extinção do Ministério da Cultura. Ele teme pelo futuro do cenário cultural mas, aconselha os interessados em produzir cinema a buscarem pelos editais de incentivo que estão abertos.– É preciso buscar informações e se adaptar aos editais que estão abertos, como o da Ancine e Instituto Nacional de Cinema. Também existem Lei de Incentivo ao Audiovisual, Lei Rouanet, entre outros – ressalta Cassol, que acredita que a cultura não pode retroceder pois é algo transformador e vital.