Após um dia de paralisação dos servidores municipais, a reunião semanal da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores se tornou palco de mais um debate sobre a proposta da prefeitura de reduzir a jornada de trabalho dos médicos dos postos de saúde.
O tema original da reunião era a situação das unidades – muitas apresentam problemas de estrutura ou filas longas – e a redução do número de profissionais do programa Mais Médicos na cidade.
Porém, a secretária de Saúde, Vânia Olivo, acabou tendo de esclarecer os vereadores e servidores que estavam presentes sobre a proposta, que visa resolver um problema que, segundo a prefeitura, atinge apenas a classe médica. Na opinião dos funcionários, a única questão que atinge somente os médicos é a preocupação com o registro do ponto.
Para servidores de diferentes postos de saúde que participaram da reunião, o cumprimento da jornada de trabalho na íntegra não é exclusividade dos médicos. Sem se identificar, os servidores admitiram que a jornada de 40 horas semanais, para a qual todos foram contratados, não costuma ser cumprida por nenhum dos profissionais.
Por outro lado, os servidores não se mostraram preocupados com a perspectiva de ter de bater o ponto a partir de 1º de julho, data que a prefeitura estipulou para o começo do registro eletrônico.
– Ninguém faz 100% da jornada, mas certamente, fazemos 90%. Só que tem médico que faz 10%. Como o nosso atendimento é por livre demanda, enquanto tem gente dentro do posto, seguimos atendendo. Nunca mandamos ninguém embora porque “as fichas acabaram”. Isso, só os médicos fazem. Só eles determinam quantas pessoas vão atender por dia – afirmou uma servidora.
Fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, fonoaudiólogos, técnicos e outros profissionais que trabalham na rede municipal de saúde não querem que seus protestos sejam atrelados à exigência do ponto eletrônico. O que eles buscam é uma valorização dos diferentes profissionais da saúde.
Eles também duvidam da possibilidade de os médicos pedirem demissão em massa após a obrigatoriedade de ponto – uma preocupação da prefeitura.
– Quanto tu fazes um concurso público, tu fazes uma escolha. O salário está defasado? Sim, para todos nós. Não tem plano de carreira? Ninguém que trabalha na saúde da prefeitura tem, sendo que os outros setores conquistaram isso em 2004. A falta de profissionais também atinge outras atividades – questiona outra servidora.
Plano de carreira
A partir da mobilização provocada pela proposta que visa reduzir a jornada de trabalho dos médicos, os profissionais querem se manter unidos para lutar pela antiga demanda do plano de cargos e salários, tema em que receberam apoio dos vereadores para o ano eleitoral.Os funcionários relataram que sofreram ameaça da prefeitura caso participassem da reunião.
Alguns disseram que tiveram o apoio de pacientes para se ausentarem do trabalho. Questionada, a secretária de Saúde, Vânia Olivo, explicou que a orientação que circulou pelos postos não era “proibição”, mas uma “questão de organização”, para que o atendimento à população não fosse interrompido por conta do evento.