O Facebook anunciou nesta quarta-feira que dará aos amigos e familiares maior destaque nos "feeds" dos usuários, uma medida que pode prejudicar os meios de comunicação que dependem da rede para atrair leitores.
A gigante das redes sociais informou em um comunicado que o objetivo do "feed de notícias", que aparece quando os usuários entram na página, "é mostrar às pessoas as histórias que são mais relevantes para elas" e que essa atualização "ajuda a ver mais postagens dos seus amigos e família".
Esta mudança ocorre depois de a maior rede social do mundo estar sob investigação por acusações de um ex-contratado suprimir alguns pontos de vista políticos nos "trending topics" (assuntos mais comentados).
O Facebook informou não ter encontrado parcialidade em sua revisão, mas que tomaria medidas para tranquilizar os usuários sobre a neutralidade da plataforma.
Seu vice-presidente, Adam Mosseri, informou em um post em um blog que o algorítimo atualizado que determina o que os usuários iriam ver ajuda as pessoas a encontrar informações relevantes para elas.
"Nós não estamos nesse negócio para distribuir o que mundo deve ler", escreveu.
"Estamos nesse negócio para conectar pessoas e ideias - e combinar pessoas com as histórias que elas achem mais significativas", completou.
"Nossa integridade depende de sermos inclusivos em todas as perspectivas e pontos de vista, e usar uma classificação para conectar pessoas a histórias e fontes que acham mais significativas e atraentes", concluiu.
Mesmo que o Facebook tenha enfatizado que não quer ser um provedor de meios de comunicação, as pesquisas mostram que ele se tornou uma das fontes-chave de notícias, mesmo que os usuários sejam atraídos para a rede por outras razões.
No mês passado, uma pesquisa do "Pew Research Center" mostrou que 66% dos usuários americanos do Facebook obtêm ao menos alguma notícia pela rede social.
As tendências globais são similares. Uma pesquisa em 26 países feita pelo Instituto Reuters da Universidade de Oxford para o estudo do Jornalismo notou que 51% dos entrevistados indicaram usar a rede social para notícias, com 12% deles usando-o como principal fonte de notícias.
O Facebook foi de longe a fonte mais importante, usado por 44% dos entrevistados no total do levantamento.
O diretor de engenharia do Facebook, Lars Backstrom, disse que a atualização "pode causar uma diminuição do alcance e do encaminhamento de tráfego para algumas páginas", mas observou que um dos fatores ao priorizar as postagens será o "compartilhamento" dos usuários.
Preocupação para a mídia
O último ajuste feito no algorítimo pode impactar os meios de comunicação que usam o Facebook e seu 1,6 bilhão de usuários para gerar tráfego e receitas de publicidade.
Para Joshua Benton, diretor do "Nieman Journalism Lab" da Universidade de Harvard, este é mais um passo na contínua desvalorização dos seguidores de grandes produtores de conteúdo.
Essa mudança é "provavelmente significativa para os meios de comunicação que dependem fortemente do Facebook como uma importante fonte de tráfego de referência", disse Benjamin Mullin do "Instituto Poynter" em um blog.
Mas para Jay Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York, a mudança é positiva porque oferece transparência e se concentra nos usuários do Facebook.
"O seu gráfico social vem em primeiro lugar, não o mundo público", afirmou Rosen em seu blog.
O ajuste significa que o Facebook está "comprometido com a personalização do 'feed' de notícias como uma espécie de direito que os usuários têm", escreveu Rosen.
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