Donos das empresas Val Paradiso, de Carlos Barbosa, e Latteria Alimentos, de Antônio Prado, Reinaldo Perera e Moisés Beltrame foram presos nesta quinta-feira por venderem queijos estragados e vencidos. De acordo com o Ministério Público (MP), que desencadeou a terceira fase da Operação Queijo Compen$ado, eles também cometeram outras irregularidades, como trocar rótulos e adicionar amido de milho nas mercadorias para mascarar a colocação de menos leite do que o exigido pelas normas da indústria.
Laudos do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), vinculado ao Ministério da Agricultura, indicaram ainda a contaminação dos queijos por bactérias staphylococcus e coliformes fecais. Em gravações divulgadas pelo MP, Moisés Beltrame é flagrado negociando a comercialização de produtos podres com fornecedores, que chegam a debochar da situação. Escute abaixo.
Conforme o Lanagro, a ingestão desses alimentos pode causar náuseas, vômito, dor de cabeça e diarreia. O promotor de Justiça Especializada de Defesa do Consumidor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho relatou, em entrevista coletiva, que funcionários das empresas limpavam as mercadorias para revende-las para todo o Estado e até para São Paulo. Os queijos estragados eram frequentemente desmanchados e misturados a outros produtos, que também recebiam soda cáustica e água oxigenada.
– Nada se perdia. O que estava estragado era maquiado e reaproveitado. Dá um asco escutar essas gravações. Eles não têm a mínima consideração com a saúde humana. Falam de forma aberta, com deboche – diz o promotor.
Uma gráfica de Caxias do Sul que imprimia os rótulos será investigada. Segundo o MP, eram mais de 10 marcas diferentes. O queijo da Val Paradiso tinha venda restrita para Carlos Barbosa, mas foi encontrado em diversas cidades do Estado.
"Não consumam essas marcas", orienta promotor
Além de Reinaldo Perera e Moisés Beltrame, foram presos Sérgio Marques, dono da Taurino Laticínios (Tenente Portela); Rodrigo Luza e Denir Luza, sócios da Laticínios Luza (Constantina), e Jorge Arbo, de Canoas, que estava limpando queijos fabricados pela Luza. Durante as buscas, outro homem foi detido por porte ilegal de arma. Foram apreendidas 20 toneladas de produtos impróprios para o consumo.
Na véspera da ação, um fiscal de inspeção municipal de Antônio Prado visitou um dos distribuidores investigados e pediu para que os produtos fossem retirados com urgência. Ele pode ser denunciado por participar do esquema criminoso.
O MP informou que a Luza levava as mercadorias duas vezes por semana para Canoas com batedores, que verificavam possível fiscalização. Apenas a Taurino foi interditada por condições de higiene. Os suspeitos devem responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em produtos alimentícios e falsificação de rótulos.
– Não consumam essas marcas. Não tem como confiar nas informações que estão rotuladas – orientou Alcindo.
O Pioneiro entrou em contato com a Val Paradiso e a Latteria Alimentos, mas não obteve retorno dos representantes das empresas.
CONTRAPONTOS
Paulo Roberto Maffessoni, advogado da Laticínios Luza
"É uma surpresa para nós. Não se trata de queijo compensado, tanto que a empresa tem autorização do município para funcionar. Meu cliente não agiu com dolo. Vou tomar conhecimento da ação e apresentar a nossa tese."
Mauro Strapazzon, dono da distribuidora Mauro Strapazzon:
"Eu comprei uns queijos do Denir, da Luza, mas pouca coisa (MP inutilizou mais de uma tonelada). Eu revendia porque ele disse que estava legalizado. Mas eu parei. Está errado. Não tem mais como vender."
Em nota, o Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) manifestou-se sobre operação:
O Sindilat apoia integralmente a operação promovida pelo Ministério Público do RS, Receita Estadual, Ministério da Agricultura (Mapa), Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e Brigada Militar no intuito de assegurar a qualidade dos produtos lácteos produzidos em todos os municípios do Estado do Rio Grande do Sul.
Mascarar prazos de validade e reaproveitar produtos vencidos são ações danosas à sociedade e a todo o setor lácteo. Além de por em risco a saúde dos consumidores, tais práticas impõem uma concorrência desleal ao mercado e às centenas de laticínios que atuam com alto rigor e controle de qualidade, comprometidos com a sanidade e integridade dos alimentos que fabricam.
O Sindilat informa que o Rio Grande do Sul é o estado da federação onde a produção láctea é a mais fiscalizada no país. É importante ressaltar que o leite e seus derivados são alimentos de alto valor nutricional e utilizados na alimentação de milhares de pessoas. Qualquer ação de adulteração deve ser vista como um ato de agressão à saúde humana e punida com o rigor da lei.
* Com informações de Zero Hora