Cerca de 12 horas depois de ter baleado um jovem armado que invadiu a sua casa e ameaçou a sua família, policial rodoviário federal conta como foi a ação do bandido e a sua reação.
O fato ocorreu por volta das 2h15min deste domingo no bairro Camobi. Este é o 24º homicídio registrado este ano em Santa Maria.
Diário – Como você percebeu que havia alguém na casa?
Policial – Os cachorros do vizinho latiram. Estávamos no quarto, no andar de baixo (térreo). Minha esposa ouviu um barulho estranho e disse que ia ver. Ela saiu (do quarto do casal) e visualizou o indivíduo adentrando no quarto da mãe dela. Ela me avisou. Peguei minha arma e me desloquei até o local. Deparei com o indivíduo armado apontando para minha sogra, dizendo que ia matá-la. Ordenei que largasse a arma imediatamente. Além de não largá-la, ele apontou a arma para mim com o dedo no gatilho. Antes que ele me atingisse, consegui efetuar o disparo, para defender não só a minha vida como a da minha sogra.
Diário – Foram três tiros. Foi uma reação automática?
Policial – O policial faz o que treina. Trabalhamos com tiro duplo policial, que é para ter certeza que vai neutralizar a ameaça. Quando efetuei o primeiro disparo, ele continuava em pé, não caiu e não largou a arma. Então, efetuei outros dois para ter certeza de que ele não iria disparar nem em mim nem na minha sogra. Numa situação de estresse, nos preocupamos em nos proteger e proteger as pessoas que amamos, efetuamos o disparo com a intenção de neutralizar. O policial não atira com a intenção de matar ninguém, atira para diminuir a resistência, numa força proporcional à que a outra pessoa está empregando.
Diário – Ele morreu na hora?
Policial – Ele caiu. Fui tirar a arma dele, verifiquei que não tinha outra arma. Afastei a arma dele e me preocupei se ele tinha um comparsa. Desci com minha sogra, coloquei ela e minha esposa no banheiro do quarto e fiz varredura na casa. Vi que não tinha mais ninguém e acionei a Brigada Militar, a Polícia Rodoviária Federal, o BOE. Foi evidenciado o óbito. Depois, veio o IGP fazer perícia.
Diário – Houve a tentativa de abuso da sua sogra?
Policial – Não ficou claro. Quando ele me viu, tentou se proteger atrás dela. Fui enfático: Solta ela. Nesse momento, ele apontou a arma para mim com intenção de me atingir. Eu consegui disparar na altura do tórax, para cima, que era a parte do corpo dele que estava exposta. Foi tudo simultâneo. O criminoso que quer furtar pega os objetos e vai embora. Esse, não. A oportunidade que teve, ele aproveitou. Felizmente, eu estava em casa e, graças a Deus, eu pude proteger minha família.
Diário – Você acha que a experiência como policial foi determinante?
Policial – O treinamento e Deus, que me ajudou a ficar tranquilo, a usar a técnica. Além disso, meu equipamento, no caso, a arma, funcionou de forma correta, porque já tivemos policiais que morreram porque a arma não funcionou.
Diário – Já tinha atingido uma pessoa?
Policial – Participei de operações, de trocas de tiros, mas, não.
Diário – Tem algo que gostaria de dizer sobre a sua atuação nesse caso?
Policial – Minha família estava em risco. Esse marginal invadiu minha casa. Criminoso foragido do sistema prisional, atentou contra a vida da minha esposa, da minha sogra e apontou uma arma carregada para mim, com o dedo no gatilho, com a clara intenção de me matar. Minha resposta é para minha família e para a sociedade. Minha atitude foi justa, dentro da lei, agi em legítima defesa. Estou em paz, agi corretamente. Ele não me deu opção. Se quando eu disse "solta a arma", ele tivesse soltado, eu jamais teria disparado contra ele. Teria rendido, imobilizado e levado para a delegacia. Apreendido a arma. Mas, não. Ele escolheu o destino dele. Entrou em minha casa hoje (ontem) com a clara intenção de fazer o mal. Graças a Deus, aqui tínhamos uma pessoa para dar uma resposta. Meu questionamento, que não sei se tem resposta, é: e o cidadão de bem que está em casa e o trabalhador que não tem uma arma, se essa pessoa tivesse entrado lá, o que teria acontecido com a esposa, com as filhas dele?
Diário – O que acha da criminalidade em Santa Maria?
Policial – Vem crescendo exponencialmente. O que fica claro é que precisamos de um investimento grande em segurança pública. Ninguém se sente mais tranquilo dentro de casa. Não vemos mais viaturas da Brigada Militar nas ruas. Os policiais estão recebendo salário parcelado.