Há uma semana, eram seis escolas estaduais ocupadas em Porto Alegre. Ontem, a União Gaúcha de Estudantes Secundaristas (Uges) confirmou que alunos de 33 estabecimentos de ensino aderiram ao movimento – nesta segunda-feira foram as escolas Paraíba, Araguaia e José do Patrocínio, todas da Zona Sul da Capital, que aumentaram a lista de participantes.
A manifestação une estudantes por melhorias na educação, recursos para a manutenção básica das escolas e apoio a greve dos professores, ao mesmo tempo em que traz à tona o dilema de quem está às vésperas de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal porta de entrada ao ensino superior.
Lucas Dantas de Lima, 18 anos, é aluno do noturno do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Rafaela Remião, na Lomba do Pinheiro, ocupada desde quinta-feira passada por um grupo de 40 dos 1.589 estudantes. Ele apoia a greve dos professores, reconhece as mazelas da escola mas sabe que terá prejuízos na aprendizagem. Lucas se prepara para fazer o Enem em novembro e há uma semana está sem aulas.
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Em casa, estuda todas as noites refazendo provas antigas, faz testes em simulados, lê resumos dos livros de literatura brasileira e tenta se manter bem informado com o noticiário. Tem facilidade de estudar matemática e física, mas reconhece, no entanto, a dificuldade de entender sozinho os conteúdos de química:
–Vou todos os dias à noite na escola conferir se não vai ter aula mesmo. Se eu encontro algum professor, já tento tirar algumas dúvidas. Eu tenho noção que estes são dias perdidos de aula, que não serão recuperados com a mesma qualidade.
Morador da Lomba do Pinheiro, quer fazer vestibular de medicina e sonha em dar uma vida melhor para a mãe, a faxineira Maria, 46 anos, e o carpinteiro Valdomiro, 42 anos, e terminar a obra da casa onde vivem.
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Embora não esteja presente na ocupação da sua escola, Lucas é um dos tantos inconformados com a qualidade do ensino. Ele conta que na Rafaela Remião falta caneta para escrever no quadro branco, folha de ofício e até papel higiênico. Só não está presente na ocupação, admite, por falta de segurança na escola e no entorno dela:
–Sempre ficamos muito em silêncio, nunca fomos para a rua, queremos um futuro melhor para a nossa escola.
A diretora Célia Apolônio desaconselhou os alunos a dormirem na escola porque se trata de uma área insegura devido a guerra de facções ligadas ao tráfico de drogas:
–É uma ocupação tranquila, desde que não atrapalhe as aulas e tenha uma programação, tudo bem.
Falta segurança e infraestrutura na Rafaela Remião
O grupo ocupa um dos prédios, chega às 7h30min e vai embora por volta das 20h. Ao longo do dia, além de palestras, os estudantes discutem temas e notícias das ocupações e já fizeram corte de grama, limpeza de todas as classes e varrição da escola.
Segundo a presidente do grêmio estudantil e líder da ocupação, Desyrée Azevedo, 20 anos, mães de alunos preparam o almoço com alimentos vindos de doações. A aluna adianta que pretende fortalecer o movimento nos próximos dias para ocupar a escola integralmente, 24 horas por dia:
– Estamos com quatro meses de atraso na verba de autonomia da escola. Há mais de dez anos tem projeto para construção da quadra esportiva. Não temos segurança, tem aluno que é assaltado em frente a escola. Essa é a única escola de ensino médio do bairro, era para ter uma estrutura melhor – afirma Desyrée.
Escolas ocupadas na Capital|
Paraíba
Araguaia
Paula Soares
Protásio Alves
Júlio de Castilhos
Glicério Alves
Costa e Silva
Roque Gonzales
Rafaela Remião
Santos Dumont
Oscar Pereira
Ernesto Dornelles
Agrônomo Pedro Pereira
Padre Réus
Alcides Cunha
Infante Dom Henrique
Cristóvão Colombo
Emílio Massot
Visconde do Rio Grande
Cândido José de Godói
Inácio Montanha
Santa Luzia
Rio Branco
Irmão Pedro
República Argentina
Instituto de Educação Flores da Cunha
Padre Rambo
Ildo Meneghetti
Dom Diogo de Souza
Presidente Roosevelt
Paraná
Alberto Torres
José do Patrocínio
* Dados apurados na tarde da última segunda-feira, com a União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges)