Relatar histórias de drama e superação por meio de grandes reportagens pode trazer conforto aos leitores e telespectadores, conforme Marcelo Canellas, repórter especial da Rede Globo. No painel O Futuro do Jornalismo é Contar Histórias, do evento Em Pauta ZH, que ocorreu na manhã desta quarta-feira no Instituto Ling, na Capital, Canellas afirmou que os relatos despertam o sentimento de solidariedade pelo drama e as injustiças sofridas pelo outro, trazendo conforto diante de situações críticas.
– Vivemos uma época em que se fala em crise o tempo todo: política, econômica, da imprensa. É nesse momento que temos que recuperar a necessidade humana de ouvir e contar histórias – afirmou o jornalista. – Nunca antes as grades histórias mereceram tanto espaço.
Para Canellas, quando a reportagem sublime substitui o sofrimento, os dramas ganham um novo significado e podem encontrar o caminho para a superação. O repórter falou sobre sua recente matéria sobre a Tragédia da Gameleira, em Belo Horizonte. O caso, conhecido como a mais antiga demanda trabalhista do Brasil, mereceu reportagem recente no Fantástico, ao completar 45 anos sem solução.
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– A escolha pelo tema se deu a partir de uma matéria pequena em um jornal de Minas, que revelou histórias de famílias que esperam décadas pela indenização – contou.
Canellas afirmou que a escolha pelos temas de suas matérias tem como base a ética e a denúncia de distorções e injustiças. Depois de escolhido, o assunto é levado às reuniões de pauta, onde precisa ser defendido a unhas e dentes por espaço. O repórter diz se envolver com a reportagem até o fim, avaliando as dezenas de horas de entrevistas e captação de imagem e montando o roteiro.
– É preciso pensar na melhor narrativa para apresentar a reportagem: a entrevista, a imagem, o silêncio, a passagem (entrada do repórter) – afirmou.
A outra convidada do painel, a repórter especial de ZH Letícia Duarte, explicou que um desafio das grandes reportagens é manter o distanciamento dos personagens, o que exige uma avaliação permanente do jornalista quanto ao seu papel na produção da matéria.
– Sempre penso em como não cruzar esta linha, em manter o distanciamento por não ser o personagem principal da história, embora buscando proximidade para criar a empatia com os personagens.
Letícia explica que essa proximidade, que muitas vezes se acentua com a convivência, é essencial para ganhar a confiança da fonte e dispor das informações. Em reportagem sobre os refugiados da Síria que buscam asilo na Europa, ela acompanhou uma família com a qual compartilhava alimentação e abrigo.
– Eu ficava constrangida em aceitar, mas via que eles se sentiam bem me acolhendo e gratos por sua história estar sendo contada – afirma Letícia.
A jornalista considera importante acompanhar a continuação das histórias mesmo após a publicação. No caso da premiada reportagem Filho da Rua, até hoje ela mantém contato com o personagem de sua matéria. Quanto aos refugiados, prepara uma nova reportagem para mostrar como é a vida da família síria na Alemanha.
Oportunidade para novas linguagens
Ao encerrar o evento, a vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais do Grupo RBS, Andiara Petterle, reforçou que o grupo é movido pela missão de inspirar e transformar a vida dos gaúchos, através do jornalismo. Andiara afirmou que as novas mídias trazem possibilidade de se desenvolver outras narrativas para contar histórias e emocionar.
– Nunca tivemos tanta audiência, graças ao acesso crescente a tablets e smartphones. Isso abre novas oportunidades para alcançarmos nossa missão de transformar, buscando a melhor experiência dos leitores nas novas plataformas.
Em Pauta ZH
Para comemorar seus 52 anos, Zero Hora promoveu nesta quarta-feira, no Instituto Ling, em Porto Alegre, edição especial do Em Pauta ZH com o tema O Futuro do Jornalismo. Estiveram no palco repórteres, editores, colunistas e professores, que dividiram experiências e ampliaram a discussão sobre o tema, e, na plateia, leitores e jornalistas do Grupo RBS.
Além da transmissão ao vivo, é possível acompanhar as discussões sobre o papel da imprensa em uma sociedade livre e democrática pelas redes sociais de ZH. O evento de Zero Hora tem apoio de Instituto Ling, UniRitter, NET e Claro.
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ZH nas universidades
Os 25 cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul também fazem parte das comemorações de aniversário. As faculdades receberão o ciclo de palestras que anualmente leva repórteres, editores e colunistas de ZH até as salas de aula. Para compartilhar experiências com os futuros jornalistas, o roteiro inclui 15 cidades. A semana de bate-papo nas universidades ocorrerá de 30 de maio a 2 de junho.