O recuo de Michel Temer em relação à extinção do Ministério da Cultura (MinC) não desmobilizou os manifestantes que ocupam sedes relacionadas à pasta ao redor do Brasil. Em Porto Alegre, os coletivos formados por artistas e produtores culturais que se encontram na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmaram na noite desta terça-feira que seguirão no local. Os ocupantes declaram não reconhecer o governo interino de Temer e, tampouco, o ministério recém assumido por Marcelo Calero.
– Não negociamos com o governo golpista. A luta pela democracia não tem data para terminar. Enquanto esse governo estiver aí, vai continuar a resistência – afirmou o ator Luciano Fernandes.
– (A volta do MinC) é uma jogada política, isso ficou muito claro para a gente. Houve um movimento muito forte e então trouxeram de volta o ministério – Reflete Bruna Immich, atriz que faz parte do Grupo Trilho de Teatro.
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Apesar de ocorrer em sintonia com atos semelhantes em aproximadamente 21 outras capitais brasileiras, o movimento tem deliberações próprias. Segundo os artistas e produtores culturais que estão no Iphan, cada Estado onde as ocupações vêm ocorrendo tem sua autonomia e suas diferentes reivindicações baseadas no contexto local. O ponto em comum entre as ocupações fica por conta do posicionamento contra o governo interino de Temer.
– O ato é nacional, mas é horizontal. Cada "ocupa" (ocupação) discute em assembleia qual a posição do grupo – explica o ator, diretor e dramaturgo Marcelo Restori.
– Quando montamos toda essa estrutura, é quase a proposta de um novo ministério. As nossas propostas não são para este governo [de Temer]. Tanto que estamos discutindo propostas da esfera municipal, estadual e, principalmente, federal – completou Restori.
Entre manifestantes que passam a noite no local e passageiros, o local recebe dezenas de pessoas por dia. Durante esse tempo, os manifestantes promovem apresentações artísticas e mesas redondas nas quais se discute o papel do MinC e outras deliberações relacionadas à reivindicação de políticas públicas para a cultura.
– É uma ocupação bem cultural mesmo. Sempre temos uma atividade. Já tivemos, por exemplo, uma oficina de malabares. Ontem (na segunda-feira) tivemos uma apresentação do Hique Gomez (artista gaúcho que fez parte da dupla Tangos & Tragédias) , buscamos fomentar a cultura – conta Luciano Fernandes.