A polêmica envolvendo a moção de repúdio à reitoria da UFRGS, aprovada pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre no dia 20 de abril, está longe de acabar. Motivada pela organização de um evento contrário ao impeachment de Dilma Rousseff nas dependências da universidade, a decisão da Câmara passará por uma renovação de votação a ser apreciada na próxima quarta-feira. A medida consta no regimento interno da casa e pode ser solicitada pelos vereadores sempre que a diferença de votos for igual ou inferior a três.
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Caso os vereadores aprovem a renovação de votação, a moção voltará a ser discutida em plenário na sessão seguinte – prevista para segunda-feira da semana que vem, dia 9.
Apresentado pelo vereador Valter Nagelstein(PMDB), o documento acusa o reitor da universidade, Carlos Alexandre Netto, e o vice-reitor Rui Vicente Opperman de organizarem um evento político-partidário em favor do governo no dia 30 de março. A nota diz que ambos "organizaram evento partidário, no sagrado ambiente da Universidade Pública Federal, denominado Grande Ato em Defesa da Democracia e da Legalidade", desrespeitando a "necessária imparcialidade de suas altas atribuições e ofendendo o art. 4º do Regimento Interno da UFRGS que reza: 'é vedado à universidade tomar posição sobre questões político partidárias, bem como adotar medidas baseadas em preceitos de qualquer natureza'".
– É uma moção de repúdio ao ato político promovido pelo reitor e pelo pró-reitor e ao comício ocorrido dentro da universidade. Filiação política cada um pode ter, mas atos político-partidários têm lugares corretos para serem feitos – diz Nagelstein, afirmando que os estudantes foram dispensados das aulas naquele dia e que foram utilizados e-mails da universidade para promover o evento.
Sobre a renovação da votação, solicitada pelo vereador Airto Ferronato (PSB) e prevista para ser apreciada na quarta-feira, Nagelstein afirma que irá sustentar os mesmos argumentos. Já Ferronato acredita na revogação do documento.
– Parece uma decisão equivocada (da Câmara de Vereadores), pois todos manifestam opinião sobre o impeachment, e repudiar isso parece uma decisão fora de contexto – alega Ferronato.
O assunto tem gerado debates nas redes sociais. Enquanto alguns usuários acusam a Câmara de Vereadores de tentarem censurar a UFRGS, outros acreditam que os alunos deveriam ir para a universidade para estudar, e não para participar de manifestações políticas.
O que diz o reitor da UFRGS
O reitor da universidade, Carlos Alexandre Netto, diz ter sido pego de surpresa com a votação e a aprovação do documento pela Câmara de Vereadores, e acredita que a moção será revogada. Além disso, Netto nega que a reitoria tenha utilizado o e-mail da universidade para organizar o evento e frisa que não houve abono de faltas.
– O ato não foi promovido pela universidade. A UFRGS cedeu, sim, o Salão de Atos a pedido de sindicatos. Não foi um ato politico-partidário como mencionado. A reitoria não promoveu, não divulgou. E, se algum professor quis fazer isso utilizando o e-mail da universidade, está dentro da sua liberdade de expressão e cidadania.
O reitor salienta que a universidade tem "autonomia de gestão" e que a crise política e econômica que assola o país deve ser debatida no ambiente acadêmico.
– O Brasil vive hoje um momento de grande crise. Se a universidade não puder discutir isso em seus ambientes, algo está errado – finaliza.