Imagens de mulheres presas e torturadas na ditadura militar tremulavam em um varal improvisado entre árvores, enquanto jovens recrutas deixavam o 1º Batalhão de Polícia do Exército na manhã desta segunda-feira. Na Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, por onde os jovens saiam, sobreviventes da tortura e feministas fizeram uma instalação em memória das vítimas da violência do regime.
O 1º Batalhão abrigou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), centro da tortura no Rio.
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O ato também lembrou a morte de Luana Barbosa dos Reis, em abril deste ano, depois de ter sido espancada pela Polícia Militar, em São Paulo. Para as ativistas, a tortura nos dias de hoje é herança da ditadura.
A ação de hoje é uma resposta ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que no dia da votação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara fez uma saudação ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores da ditadura militar brasileira.
– A ideia é falar das mulheres perseguidas, torturadas e mortas, justamente para mostrar indignação e fazer um contraponto ao deputado, em memória dessas mulheres e de Luana Barbosa (morta e torturada pela PM de SP) – disse uma das organizadoras do ato, Paola Bettamio, integrante da Marcha Mundial de Mulheres. – Apesar da diferença anacrônica entre a ditadura e o que acontece hoje, a polícia e a tortura são resquícios do mesmo passado.
O caso de Luana veio a público depois da divulgação de um vídeo gravado pelos familiares em que ela relata socos, pontapés e ameaças assim que foi liberada pela Polícia Militar. Ela morreu cinco dias depois, em decorrência de uma isquemia cerebral causada por traumatismo craniano. Três PMs são investigados sob suspeitas do espancamento.
Tortura no DOI-Codi
Durante o ato, a ex-presa política Ana Bursztyn-Miranda, que foi torturada nos porões 1º Batalhão, quando teve até um jacaré colocado sobre seu corpo nu, disse que as mulheres, no cárcere, ainda são subjugadas e humilhadas, como naquela época.
Assim como Ana, a historiadora Dulci Pandolfi foi espancada, recebeu choques elétricos com o corpo preso no pau de arara e também teve um jacaré colocado sobre seu corpo nas instalações do 1º Batalhão. Dulci chegou a ser usada em uma "aula de tortura".
Para que a violência não seja naturalizada e para se contrapor a homenagem a Ustra, as ativistas leram relatos de torturas, como o da ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, que quase teve a filha de um ano e três meses violentada sob o aval do coronel.
– Assisti a tortura de Luiz Eduardo Merlino, sendo torturada na cadeira do dragão e vi o coronel Ustra entrar na sala. Em outro momento que eu o vi, foi quando existia a ameaça de tortura de minha filha, de 1 ano e 3 meses. Ustra não só participava como autorizava as torturas para mais ou para menos – disse a ex-ministra no depoimento lido por uma estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A cadeira do dragão era uma espécie de assento de madeira onde a vítima ficava amarrada nua, com fios elétricos espalhados pelo corpo, incluindo seios e órgãos sexuais. Com o corpo molhado, o choque elétrico era extremo e as vítimas costumavam ter convulsões e descontrole intestinal.