Alvo de um mandado de condução coercitiva na Operação Janus, da Polícia Federal, nesta sexta-feira, o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos afirmou à CPI do BNDES em outubro do ano passado que a sua empresa, Exergia Brasil, recebeu entre US$ 1,8 milhão e US$ 2 milhões por serviços prestados à Odebrecht na obra de ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe, em Angola. A Polícia Federal investiga se os pagamentos à empresa de Taiguara foram utilizados para o recebimento de propinas.
Na ocasião, o executivo falou por quatro horas à comissão e disse que o valor é referente a serviços de sondagem, avaliação da topografia e gerenciamento de obras prestados pela empresa. Segundo ele, todos os contratos foram obtidos por meio de licitações dentro da empreiteira.
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A investigação começou com o envio para a PF de um Procedimento de Investigação Criminal do Ministério Público Federal que pretendia investigar se a construtora Odebrecht teria, entre 2011 e 2014, pago propina em troca de facilidades na obtenção de empréstimos de interesse da multinacional junto ao BNDES. No total, a obra de Cambambe recebeu do BNDES financiamento de US$ 464 milhões.
Ao falar para os deputados no ano passado, Taiguara também confirmou ser amigo do filho do ex-presidente Lula Luís Lula da Silva, o Lulinha, mas negou que o ex-presidente ou seu filho tenham exercido tráfico de influência para que sua companhia conseguisse contratos junto à empreiteira. O executivo disse ter contato com Lula, mas não se considerar amigo do petista, embora seu pai, que foi cunhado do ex-presidente, tenha sido "muito amigo" do ex-presidente.
– Lula foi casado com minha tia, irmã do meu pai – afirmou, negando que isso signifique que ele seja sobrinho do ex-presidente, como noticiado pela imprensa.
Em relação a Angola, ele relatou que as oportunidades de trabalho naquele país apareceram "com o passar dos anos". O executivo contou que, em 2007, foi convidado pelo empresário paulista Nivaldo Moreira, da companhia Morelate, para atuar no fornecimento de peças para ônibus e caminhões no país africano juntamente com o empresário português João Germano.
De acordo com o Taiguara, quando a Exergia foi aberta, em 2009, ele detinha 49% da sociedade, sendo o restante da participação do empresário português. Questionado por integrantes da CPI como o grupo português topou sociedade com ele sem que ele tenha entrado com qualquer capital inicial, o executivo afirmou que foi escolhido pela sua habilidade como vendedor, uma vez que seu principal papel seria "vender" a empresa. Ele disse atuar como vendedor desde os 14 anos. Parlamentares de oposição se mostraram irritados com a resposta do empresário, que confirmou ser sócio de outras três empresas, as quais, segundo ele, não atuaram em Angola.
O empresário declarou ainda que a Exergia é uma empresa pequena. Segundo ele, de 2011 a 2015, o faturamento da companhia não chegou a R$ 2 milhões por ano.
– Infelizmente, não sou um grande empresário – contou.
Taiguara confirmou que comprou um apartamento duplex com financiamento da Caixa Econômica Federal e um veículo de luxo da marca Land Rover. Ele alegou, contudo, que, desde meados do ano passado, vive em situação econômica difícil, tendo "muitas dívidas". De acordo com o empresário, seu apartamento corre o risco de ir a leilão.
– A Exergia Brasil está há muito tempo sem contratos – destacou.
Em seu depoimento, o executivo também confirmou que Exergia Brasil firmou outros contratos com a Odebrecht, empreiteira envolvida nas investigações da Operação Lava-Jato: um deles no valor de US$ 280 mil e outro de US$ 750 mil – esse para reformar uma casa em Angola. O empresário negou, contudo, ter fechado contrato de US$ 1 milhão para construir uma fazenda hidropônica no país africano. Segundo ele, o projeto não foi para frente porque ele não recebeu o dinheiro pelo serviço. No depoimento, o executivo comentou ainda que não sabia que a obra da hidrelétrica de Cambambe possuía financiamento do BNDES.
Na ocasião, Taiguara aceitou a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário de sua empresa, solicitada pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). O empresário apontou ainda que não tinha recebido nenhuma notificação ou intimação do Ministério Público de investigação a seu respeito. O executivo ressaltou estar sabendo apenas pela imprensa da investigação pelo MP.
– Está me incomodando aqui o menosprezo à minha pessoa o tempo todo – salientou.