Enquanto o comerciante Elton Linhares, 48 anos, proprietário de uma fruteira na esquina do Hospital Cristo Redentor, arrumava as maças da banca, o taxista Paulo Bitencourt, 61 anos, preparava-se para deixar o ponto – que fica em frente à instituição – em busca de um passageiro. Já dentro da emergência, a enfermeira Stéffani Ferro cuidava de um paciente em estado grave. Eram 17h30min, e os três estavam prestes a ter suas atividades bruscamente interrompidas por um tiroteio que durou cerca de meio minuto, deixou quatro criminosos mortos e dois policiais feridos.
– Eu vi um carro chegando e a viatura da Brigada atrás, mas parecia tudo normal. De repente, os dois veículos pararam em frente à emergência e comecei a ouvir barulhos de tiro. O motorista (um dos bandidos) saiu do carro pra tentar entrar na emergência, pois acho que estava machucado, mas não conseguiu. Os policiais pararam o criminoso antes com tiros – conta Linhares.
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Escondido atrás de um muro a poucos metros do hospital, o comerciante assistiu à cena apreensivo. De onde estava, observou a ação dos policiais que impediram a saída dos outros três bandidos de dentro do veículo.
– Eu trabalho aqui há 20 anos e nunca tinha visto nada assim, foi muito impressionante. A sensação na hora era de pânico, parecia um filme de terror. Todo o mundo sumiu na hora. Os que estavam mais longe saíram correndo. Os outros buscaram refúgio dentro do hospital ou onde conseguiram – conta.
A 50 metros de Linhares, no ponto de táxi em frente à emergência, Bitencourt não teve outra saída para se proteger senão se abaixar dentro do carro, estacionando no local do confronto:
– A minha vontade era de sair correndo, mas se eu fizesse isso poderia ser atingido por uma bala perdida, pois pelo que ouvi dispararam mais de cem tiros. Fiquei todo o tempo abaixado, espiando o que estava acontecendo pela janela, mas com muito pânico, medo de levar um tiro de graça.
Bitencourt viu o momento em que um dos criminosos, que já havia sido baleado, ainda deu alguns passos em direção ao hospital, mas caiu no chão. Os demais alvos da polícia nem chegaram a sair do carro – foram encurralados antes que pudessem tentar fugir.
– Quando os caras atiraram de dentro do carro, ouvi um estrondo bem forte, do meu lado. No desespero, não me mexi, apenas aguardei os disparos pararem. Depois, vi que uma bala atingiu meu táxi de raspão. No veículo estacionado na minha frente, a coisa foi mais feia. Um dos tiros atingiu o capô.
No hospital, pânico e dúvida
Quem estava dentro da emergência do hospital foi surpreendido não pela cena do confronto, mas pelo barulho das dezenas de tiros que imediatamente interromperam os atendimentos, silenciaram funcionários, pacientes e familiares, e geraram pânico pelos corredores da instituição.
– Escutei um primeiro estampido, e fiquei parada imaginando o que poderia ser. Mas logo começamos a ouvir muitos estrondos e percebemos que era um tiroteio. Todos saíram correndo em direção aos fundos da emergência, sem saber o que estava acontecendo, só buscando abrigo, proteção. Cada um entrava na sala que dava – conta a enfermeira Stéffani Ferro, 23 anos.
A funcionária, que estava em uma sala de atendimentos graves quando o confronto se iniciou, relembra que muitos pacientes debilitados não conseguiram se movimentar para buscar abrigo. Aos familiares que os acompanhavam, restou correr e rezar:
– Em uma sala, deitamos no chão, onde permanecemos por cerca de dois minutos. Muitos choravam, gritavam, pediam para alguém ajudar os parentes doentes que haviam ficado nas outras salas, que não podiam sair das macas. Pelos barulhos, a gente imaginava que os bandidos estavam dentro do hospital, e que ninguém sairia vivo de lá. Foi uma situação de pânico em todos os andares do hospital.
Quando os disparos cessaram, aqueles que estavam na sala com a enfermeira decidiram sair e notaram que não houve feridos dentro da instituição. O medo, entretanto, fez com que funcionários abandonassem seus postos e fossem imediatamente para casa.
Na manhã seguinte ao episódio, a enfermeira Stéffani, o taxista Bitencourt e o comerciante Linhares já estavam de volta ao trabalho. Apesar do receio, não podiam faltar o serviço, já que suas famílias dependem deles. Em seus relatos, compartilhavam a sensação de insegurança e faziam um clamor:
– Precisamos de proteção, pois não temos mais o que fazer. A gente abre os braços e eles entram atirando – disse a enfermeira.