A batalha do impeachment entra na reta final na Câmara dos Deputados permeada por um clima de apreensão que ronda Brasília. Negociações políticas, toma lá dá cá, conflitos sociais, tensões e expectativas sobre possível vazamento de novas delações premiadas ou estouro de nova fase da Operação Lava-Jato são ingredientes de uma semana que entrará para a história do país. A comissão especial que analisa o afastamento de Dilma Rousseff começará a votar nesta segunda-feira o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO), favorável à saída da presidente do cargo – a sessão começa às 10h. Advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo terá tempo para fazer mais uma vez a defesa. A sessão poderá se estender por oito horas.
No colegiado, onde sairá ganhador quem alcançar maioria simples entre os 65 membros, a oposição dá a vitória como certa, cenário reconhecido pelos governistas, que apostam todas as fichas para barrar o processo na votação de plenário – essa, sim, que pode levar o caso para o arquivamento ou nova etapa, desta vez no Senado. Articuladores do bloco contrário ao PT avaliam ter até 37 votos a favor do impeachment na comissão. O governo somaria entre 28 e 30 apoios.
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O final de semana foi de negociações em Brasília. Deputados passaram em reuniões, debruçados sobre mapas de bancadas, avaliando a posição de cada parlamentar, projetando e contabilizando votos e, principalmente, tentando exercer pressões para ganhar adesões de última hora. É a cartografia do impeachment.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou um bunker no Royal Tulip, hotel à beira do Lago Paranoá e vizinho do Alvorada. Ele recebe diariamente grupos de parlamentares, argumenta, oferece espaços no governo e tenta evitar mais defecções na base aliada. No Planalto, os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), e o assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, ficaram em contato com deputados do PT e líderes de outros partidos da base, como PSD, PP, PR e PDT. Relatos são repassados a Dilma.
No sábado, parlamentares do PT depuraram os mapas com o posicionamento na votação. Foram criados comitês por Estados na tentativa de indicar com precisão as posições majoritárias em cada bancada. No domingo, no apartamento funcional de um deles, a coordenação da bancada do PT na Câmara discutiu possíveis traições de última hora.
A pesquisa Datafolha que apontou Lula e a ex-senadora Marina Silva (Rede) à frente na corrida ao Planalto em 2018 foi comemorada. Nas avaliações, a queda nas intenções de voto dos tucanos e o desempenho raquítico de Michel Temer favorecem Dilma. Parlamentares de partidos nanicos e parte das bancadas de legendas do "centrão" (PP, PSD, PR, PTN, PRB) trabalham com o "horizonte de poder", considerado enfraquecido diante da falta de apoio popular ao PMDB.
– A perspectiva de vitória do Lula também mostra que o PT segue forte. Fica cada vez mais difícil para a oposição. A partir do momento em que ela não prova ter os 342 votos, muitos parlamentares nos procuraram, pois querem ficar com o governo – afirma o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
Na trincheira oposta, parte da oposição passou reunida na casa do deputado Mendonça Filho (DEM-PE). Assim como no governo, a atenção está voltada para os novatos. Deputados em primeiro e segundo mandatos são procurados a toda hora por próceres, na tentativa de que os calouros não deem ouvidos às propostas do Planalto.
– O governo está usando o cheque sem fundo. Já tem deputado que recebeu oferta de cargo, não levou e agora está conosco. Mas é preciso estar atento, pois muita gente se deixa seduzir pela proximidade com o poder – diz o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
No Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, um outro grupo trabalha. Fiel escudeiro de Temer, o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS) telefonou para Jerônimo Goergen (PP-RS), sondando o mapa dos votos do PP. A ala anti-Dilma do partido articulou a publicação de nota declarando posição a favor do impeachment. O documento é assinado por nove diretórios regionais da sigla, incluindo os três da Região Sul, São Paulo e Minas Gerais. Cerca de 25 parlamentares do PP integram essas zonais, mas oposicionistas avaliam que entre 30 e 35 deputados, dentre os 47 do partido, votarão pelo afastamento. A ideia é pressionar o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PP-PI), a rever a posição oficial de apoio ao governo.
Depois de votado na comissão, seja qual for o resultado, o parecer deverá ser publicado na terça-feira no Diário da Câmara e, 48 horas depois, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poderá chamar a sessão plenária para votar o impeachment. A tendência é de que comece na sexta-feira, ainda na etapa de manifestações, se estendendo até o domingo, quando deve ocorrer a maioria das votações dos deputados, no microfone e de forma aberta.
O calendário previsto
Se for seguida à risca a proposta do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o processo deve ser analisado com o seguinte cronograma
Segunda-feira: retomada da discussão sobre o parecer do relator na comissão especial e votação
Sexta-feira: após os trâmites burocráticos do parecer na Câmara, o texto começa a ser discutido pelo plenário
Sábado: mais discussões
Domingo: votação final