Com Dário Berger assumindo uma vaga de titular na Comissão do Impeachment, Santa Catarina passa agora a ter participação significativa no processo contra a presidente Dilma Rousseff no Senado. Mas há 24 anos, no impedimento de Fernando Collor, esse papel foi ainda mais relevante. Um dos representantes de SC em 1992 foi o então senador catarinense Dirceu Carneiro (que à época era filiado ao PSDB). Como 1º secretário do Senado, ele notificou Collor do afastamento e também deu posse a Itamar Franco como novo presidente.
Dário Berger assume uma das vagas do PMDB na comissão do impeachment
Como está a previsão do placar do impeachment no Senado Federal
Aposentado da vida política desde que deixou o Congresso, o ex-senador voltou ao campo e hoje toma conta de uma propriedade da família em Campos Novos. Mesmo afastado do meio político, continua informado sobre o assunto e foi taxativo ao comentar as diferenças entre os processos.
– Naquele período o Congresso tinha mais prestígio. Tínhamos muitos constituintes, gente com experiência das crises do Getúlio e do João Goulart. O impeachment do Collor foi tocado com muita consistência, com entendimento estreito com o Judiciário. Agora, temos Executivo e Congresso em frangalhos. Os dois poderes estão na berlinda do ponto de vista moral e ético – afirma.
Carneiro também critica o fato do governo tratar o atual impeachment como golpe. Segundo ele, que é favorável ao impedimento de Dilma, a argumentação governista é uma "lama semântica".
– É para confundir a sociedade. Não é golpe e ponto. Houve crime de responsabilidade, um crime político – enfatiza.
Quem também participou do impeachment de Collor foi o ex-senador Nelson Wedekin (então no PDT), que há 13 anos está na iniciativa privada. Defensor do impedimento de Dilma, ele considera quase certo que será esse o desfecho da ação.
– Vejo causas mais sólidas para o impeachment hoje do que no caso do Collor. Os crimes são de natureza diferente, mas houve crime tanto de responsabilidade quanto de improbidade no caso da Dilma. As pedaladas têm natureza criminal – afirma.
Wedekin votou pelo impedimento de Collor em 1992 e avalia que o ex-presidente tinha menos apoio do que Dilma tem hoje.
– Collor não tinha base, social ou política, e estava sozinho no Palácio. Depois do impeachment, ele foi embora e ninguém mais ouviu falar. Já o PT tem base social, apesar de Dilma também estar isolada – diz, citando como semelhança a pouca habilidade de ambos em fazer política.
O terceiro senador catarinense no impeachment em 1992 era o atual deputado federal Espiridião Amin (então filiado ao PDS, atual PP), que votou pelo impedimento de Dilma no plenário da Câmara no último domingo. Integrante da comissão especial no Senado no caso de Collor, o ex-governador relembra o papel dos vice-presidentes para destacar a diferença dos momentos.
– Não houve desgaste do vice. O Itamar Franco, como bom mineiro, não falou com ninguém e foi muito discreto. Para o Michel Temer, vai ser muito difícil se livrar das acusações de conspirador – diz.
Amin defende eleições diretas para presidente e vice ainda em 2016, mas já prevê um cenário sem Dilma e diz que o caminho do país após o impeachment tende a ser mais tortuoso agora, porque o PT faria de tudo para deslegitimar o governo Temer.
*Colaborou Victor Pereira