O governo Michel Temer é gestado a partir da equipe econômica. Até o Senado votar, com provável aceite, a admissibilidade do processo de impeachment e o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff, o vice quer escolher nomes para Fazenda, Banco Central (BC) e Planejamento. O rateio da Esplanada entre aliados ocorrerá após essa definição.
Mesmo interino no cargo, Temer quer dar início a um governo com discurso de "união nacional". Ele e sua equipe têm pouco mais de duas semanas para fechar a composição, já que a votação do Senado é prevista para 11 de maio. O vice esboça uma equipe econômica respeitada pelo mercado e capaz de trabalhar em harmonia. Definido o titular da Fazenda, deverão ser aprovados os nomes de BC, BNDES, Banco do Brasil e Caixa. Para o Planejamento, o mais cotado é o senador Romero Jucá (PMDB-RR), presidente em exercício do PMDB.
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Evitar uma equipe rachada, a exemplo do que ocorreu com Joaquim Levy e Nelson Barbosa, é considerado fundamental.
A prerrogativa de escolher os colegas foi imposta por Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, e José Serra, senador (PSDB-SP), ambos cotados para Fazenda, que tiveram em momentos separados conversas com o vice em Brasília.
Serra quer ser ministro e tem apoio do ex-presidente Fernando Henrique e do ex-presidente do BC Armínio Fraga. O senador depende do aval dos tucanos para assumir cargos em um governo Temer, decisão que será tomada em reunião do partido em 3 de maio. A definição tem por trás a disputa entre Serra, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pela indicação para concorrer ao Planalto em 2018. Antes de bater o martelo sobre entrar no governo, os tucanos entregarão a Temer um conjunto de propostas defendidas pela sigla.
– O PSDB apoiou a votação do impeachment da presidente Dilma. É natural que, havendo o impeachment, deverá assumir o vice-presidente Michel Temer. Não podemos deixá-lo ao relento – afirma Serra.
O tucano é considerado um coringa pelo vice. Pode ser convidado para Saúde, Educação ou uma pasta da área social. Outro nome com esse perfil é Nelson Jobim, cotado para Defesa, Justiça e Relações Exteriores. Contudo, o gaúcho tem dito a amigos que gostaria de seguir advogando. Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), é desejado para Justiça. A fusão de Transportes, Aviação e Portos está na pauta do PMDB, que pretende reduzir a Esplanada de 31 para 22 ministérios.
Base de apoio passa por distribuição de cargos
Nos últimos dias, Temer conversou com presidentes de partidos e líderes de bancadas, de olho na governabilidade. A base dos sonhos terá a oposição, com PSDB, DEM, PPS e SD fiéis, mais o chamado centrão – PP, PR, PSD, PTB, PRB e PV. No fim de semana, o vice falou com Gilberto Kassab, patriarca do PSD, e Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que corteja Saúde, Integração e uma estatal.
– Se for tratado como o maior partido aliado, o PP discutirá participar do governo – diz Ciro.
Para driblar erros, Temer discute cortes e composições do primeiro escalão com aliados do PMDB, como Eliseu Padilha e Moreira Franco, e consultores. Ele ainda pretende receber um raio X da situação fiscal do país do ex-ministro Joaquim Levy. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf faz a ponte com o empresariado.
Temer também desenha programas de governo. A base será o documento Uma Ponte para o Futuro (leia mais na página 13). A ideia é fazer um ajuste fiscal duro, pelo menos até o final do ano, antes de propor aumento de impostos. Planeja ainda um pente fino nos programas sociais, a fim de reduzir beneficiados e ampliar os valores individuais dos repasses, em especial no Bolsa Família, focado nos 40 milhões de brasileiros considerados mais pobres.
Programa de governo
A primeira meta de Temer é cortar gastos e colocar as contas em dia, para depois avançar em programas sociais. O ajuste interno deve levar seis meses, no mínimo. Propostas de aumentos de impostos só devem vir depois.
O governo pretende reduzir indexações e diminuir o percentual de despesas obrigatórias, além de incentivar concessões. Convênios com movimentos sociais e repasses para sindicatos serão rediscutidos. A idade mínima para aposentadoria está no radar.
Será lançado um novo documento do PMDB na área social. A ideia é manter Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Pronatec, mas fazer uma auditoria nos programas para melhorar a eficiência. Assim, seria possível reajustar o valor do Bolsa Família, por exemplo.
Ministros cotados
A prioridade é fechar uma equipe econômica que agrade ao mercado e que trabalhe em sintonia. Temer trata das indicações de Fazenda, Banco Central e Planejamento.
A meta é reduzir ministérios dos atuais 31 para 22. Transportes deve ser fundido com Aviação e Portos. Justiça pode absorver Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Também haverá uma superpasta na área social. A Secretaria de Comunicação perderá status ministerial.
Definidos cortes e equipe econômica, ocorre a divisão das pastas entre os partidos aliados. PP pode ficar com a Saúde e PRB com Agricultura. DEM e PR desejam Minas e Energia, PSD quer retomar Cidades.
Nomes na mesa
Henrique Meirelles
Fazenda
Gustavo Franco, Murilo Portugal e Ilan Goldfajn
Fazenda ou Banco Central
José Serra
Fazenda, Saúde, Educação ou Infraestrutura
Romero Jucá
Planejamento ou liderança no Senado
Eliseu Padilha e Moreira Franco
Casa Civil, Secretaria de Governo ou Infraestrutura
Ayres Britto e Carlos Velloso
Justiça
Nelson Jobim
Defesa, Justiça ou Relações Exteriores
Sergio Amaral e Sérgio Danese
Relações Exteriores
Base aliada
Como o PMDB tem a maior bancada do Congresso, Temer negocia cargos para ter o chamado centrão na base: PP, PR, PSD, PTB, PTB e PV. Reforçado por parte da oposição, o vice acredita que pode ter a fidelidade de 300 dos 367 deputados que votaram a favor do impeachment.
O PSB pretende ficar independente, postura sinalizada pelo PDT. A equipe de Temer tentará trazer para base os infiéis do PDT, que votaram a favor do impeachment.
O PSDB deve apoiar o governo nas votações no Congresso, mas ainda discute se aceitará cargos. DEM e PPS adotam a mesma postura. O SD admite entrar no governo. Temer quer a atual oposição na Esplanada, para poder cobrar fidelidade nas votações.