Entrincheirado no Palácio do Jaburu, o vice-presidente Michel Temer passa as horas trabalhando em duas frentes de ação. Na mais urgente, cabala votos pró-impeachment, atualizando ao final de cada dia o mapa das forças de oposição a Dilma Rousseff. Na mais delicada, começa a esboçar a montagem de seu governo caso a presidente seja afastada.
Com a base de sustentação do Planalto em frangalhos, a residência oficial da Vice-Presidência – distante apenas três quilômetros do Palácio do Alvorada – se tornou destino de uma procissão de parlamentares. Nas duas horas em que ZH permaneceu em frente ao local nesta quarta-feira, 46 veículos passaram pelos portões guarnecidos por militares. Em sua maioria, eram políticos, como o deputado Roberto Freire (PPS-SP), que chegavam para afiançar votos ao impeachment. Mais raros eram os carros que transportavam conselheiros do vice, entre eles o filósofo e professor universitário gaúcho Denis Rosenfield, que deixou o Jaburu por volta das 15h30min.
– Todo mundo sai dali contente. Temer é um político hábil, muito diferente da Dilma – comenta um assessor.
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Foi com um sorriso no rosto que três deputados do PTN surgiram no portão. Carlos Henrique Gaguim (TO), Francisco Chapadinha (PA) e Luiz Carlos Ramos do Chapéu (RJ) recém tinham comunicado ao vice que haviam aberto mão de cargos no governo para engrossar as fileiras do impeachment.– Tivemos uma boa conversa. Ele mostrou que está preparado para governar o país. Teremos mais de 400 votos no domingo – projetava Gaguim, cujo partido recusou o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), oferecido por Dilma.
Vice já pensa em ações ao assumir a Presidência
Também estiveram no Jaburu os deputados Alceu Moreira (RS) e Valdir Colatto (SC), ambos do PMDB. Sem constrangimento, Moreira admitiu que Temer já pensa nas ações diante de um eventual afastamento de Dilma.
– Não se monta um governo do dia para a noite. São investiduras de caráter programático, mas também é preciso fazer um desenho de como vai ser no dia seguinte ao impeachment – justificou o gaúcho.
Na noite anterior, Temer jantou na casa do deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Na chegada, foi saudado como “presidente”. Enquanto saboreavam filés de peixe, picanha e vinho importado, mais de 15 parlamentares de vários partidos paparicaram o peemedebista. Ele reclamou dos ataques que vem sofrendo do PT e reforçou a necessidade de que a vitória na votação de domingo seja expressiva, servindo como símbolo do vigor político do futuro governo.
Em seguida, falou dos desafios que está prestes a enfrentar, numa projeção de que o afastamento de Dilma é apenas questão de tempo. Tentando mostrar intimidade, alguns deputados o chamavam de Michel.