Até pouco tempo Nicolly não sabia que cores existiam no mundo. Nem como era o rosto de seus pais. Foi graças a uma mobilização nas redes sociais e à luta da família que aos dois anos ela pode enxergar pela primeira vez. A menina catarinense passou por uma cirurgia em Miami, nos Estados Unidos, no mês de março e a mãe Daiana Pereira, 26 anos, acompanhou de perto o momento em que foram retirados os tampões dos olhos da filha.
– É difícil explicar como foi. A médica tinha me deixado ciente de que a cirurgia poderia não ter resultado, mas assim que retiraram os tampões foi visível que ela estava enxergando. Todos ficaram emocionados, foi a prova de que ciência e fé juntas constroem milagres – conta a mãe, que é moradora de Balneário Piçarras, no Litoral Norte de SC.
Vídeo mostra o momento que a menina enxerga pela primeira vez:
Nicolly nasceu com 18 semanas de uma cesariana. A menina tinha problemas renais, porém a família não imaginava que ela também tivesse desenvolvido uma doença ocular. Foi o pai, o motorista Alexandre Laurenço, que percebeu os primeiros sinais, pois a menina não abria direito os olhos.
Logo depois, os médicos diagnosticaram um glaucoma congênito e encaminharam a criança para um hospital especializado em São José (SC). Com nove dias de vida Nicolly fez sua primeira cirurgia e aos nove meses já tinham sido sete procedimentos – todos para controlar o glaucoma e sem resultados positivos.
– A gente via várias crianças com glaucoma tendo uma melhora boa com a cirurgia, mas a minha filha não. Ficava num imbróglio médico e ninguém conseguia constatar o que de fato estava acontecendo. Falavam que não havia possibilidade de reverter a doença e ela ainda corria o risco de ter que retirar os olhos – relata Daiana.
Mobilização no Facebook
Daiana e o marido chegaram a se mudar para Sorocaba (SP) para continuar o tratamento da filha. No entanto, foi através de uma campanha nas redes sociais que a família ganhou uma nova esperança. Uma das seguidoras da página sobre Nicolly começou a pesquisar soluções em hospitais americanos e encontrou um tratamento na Wonder Found, em Miami.
Para ir até os Estados Unidos, mais uma vez a internet deu uma ajuda aos pais da menina. Com apoio de uma fundação e um menino americanos, mãe e filha puderam embarcar no dia 14 de março deste ano. Durante os exames em Miami um médico descobriu que Nicolly também tinha problemas de audição. Sensibilizado com o caso, ele ofereceu a cirurgia para a criança.
Os dois procedimentos, ocular e auditivo, foram feitos dia 17 de março em quase sete horas. No dia seguinte, a menina já enxergava pela primeira vez o rosto da mãe.
– Os diagnósticos sempre foram negativos, nunca foi algo bom, desde os nove meses ela já dependia de um milagre. Lá eles conseguiram controlar a pressão ocular, que estava muito alta, fizeram a cirurgia e ela pôde enxergar – observa.
De acordo com Daiana, a médica que conduziu a cirurgia só viu Nicolly pessoalmente em Miami e na hora se arrependeu de ter feito a família viajar, pois o caso era muito grave.
– Ela não contou isso para gente na hora, só depois da cirurgia. Por isso, eu digo que foram a ciência e Deus juntos fizeram um milagre.
Para Daiana, melhor do que ver a filha enxergando pela primeira vez é saber que a tecnologia usada no caso dela em breve estará no país. A fundação americana vai compartilhar esses conhecimentos com o médico que cuidará de Nicolly no Brasil, para que mais crianças com a doença sejam atendidas sem precisar viajar ao exterior.
– Muitas mães me procuraram pedindo ajuda e eu ficava apavorada em como ajudar todo mundo. Com essa tecnologia aqui teremos um avanço muito grande – explica.
"Ela nunca olhou nos meus olhos e agora ela olha"
Na sexta-feira passada, mãe e filha voltaram para Balneário Piçarras. Após a cirurgia, a menina passou a usar óculos de cinco graus e, segundo Daiana, melhora a cada dia, tanto na comunicação quanto no comportamento. Quando viu o pai pela primeira vez encheu ele de beijos. Com Daiana, o carinho também aumentou:
– Ela olha pra mim e fala “que linda”. A Ni não enxerga 100% ainda, tem que esperar o cérebro processar tudo isso, mas a tendência é só melhorar. Ela nunca tinha me olhado nos olhos e agora olha, faz carinho, passa a mão no rosto.
A intenção da família é continuar estimulando a visão de Nicolly, por enquanto com vídeos e brinquedos. Ela também deve voltar a fazer fisioterapia e fonoaudiologia para que ela possa entrar em uma escola. A cirurgia para a audição também tem trazido bons resultados: Nicolly já repete a maioria das coisas que escuta, imita o som da seta do carro e canta em inglês.
Daiana diz que agora a família quer morar em um local com estrutura para atender a menina, mas ainda não decidiu se irá se mudar. De acordo com ela, o casal vendeu a casa que tinha em Penha para custear o tratamento, foi morar de aluguel em Piçarras e em Sorocaba chegou ficar sem ter o que comer.
– A gente vendeu tudo que tinha para ajudar ela e sem as pessoas envolvidas na campanha não teríamos conseguido – conclui.