Os fiéis que visitaram a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na manhã desta sexta-feira, na zona sul da Capital, se surpreenderam com uma incomum despedida do padre Rodrigo da Costa. No lugar do tradicional "Adeus, o senhor vos acompanha", o sacerdote passou a dizer:
- Adeus, se cuide na rua.
A mudança veio após ele ter sido feito refém, junto com outros 20 frequentadores da igreja, de uma dupla de criminosos. Durante o assalto, que ocorreu na noite de quinta-feira, o grupo foi trancado em uma sala e teve diversos pertences roubados.
– As pessoas vem aqui para fazer sua espiritualidade, para rezar e conviver. Ontem (quinta-feira), enquanto eu falava sobre a palavra de Deus na vida das pessoas, entrou um rapaz apontando uma arma para nós. Estávamos reunidos com famílias, crianças, e de repente esse homem, de uns 18 anos, apareceu, nervoso, anunciando o assalto – relembra o padre.
O caso ocorreu durante o tradicional encontro de casais da Paróquia. Há mais de 20 anos, famílias de fiéis se reúnem uma noite por semana no local para refletir sobre a religião. Nesta quinta-feira haviam inclusive levado os filhos para participar:
– Na hora que o homem entrou, gritando pelos celulares e chaves dos carros, todo mundo ficou sem reação. Ele estava tão nervoso que derrubou a água benta que tinha ao lado da porta, e chegou a pedir desculpa por isso. Ele derrubou e disse: "desculpa aí gente".
A dupla de assaltantes chegou ao estacionamento da paróquia de carro por volta das 20h30min. Enquanto um dos criminosos aguardava dentro do veículo, o outro rendeu o segurança do local e entrou no salão onde ocorria o encontro.
– Eu estava trabalhando quando um homem veio com a arma apontada para mim, tremendo, bem nervoso. Eu temi porque fiquei bem na mira dele, e ele me pediu para pôr as mãos para cima. Ele pedia meu celular para que eu não ligasse para a polícia – relata o segurança Matheus Matos, 24 anos.
Após recolher o telefone do funcionário, o homem se direcionou ao restante do grupo. Nervoso, gritava pela chave de uma caminhonete de um dos fiéis e mandou todos deitarem no chão.
– Ele recolheu as chaves dos carros, celulares, e nos trancou nessa sala. Nós ficamos uns cinco a 10 minutos deitados no chão, todos em silêncio. Ali de dentro, ouvimos que ele tentou roubar a caminhonete, mas o alarme disparou e ele deve ter desistido.
Minutos após a dupla fugir no mesmo veículo em que chegou à paróquia, o segurança conseguiu arrombar a porta da sala e liberar os fiéis. Assustadas, crianças e mulheres começaram a chorar e pedir ajuda, relembra Rodrigo:
– Nem a igreja hoje é livre de um assaltante entrar, assaltar e até machucar alguém se possível. A igreja, que é um lugar sagrado ou que ainda tinha esse respeito, hoje não parece mais ter. Durante o assalto estávamos todos muito tensos, mas não podemos ser profetas da desgraça, e sim da esperança. O medo paralisa. Ontem mesmo à noite, depois de tudo isso, ainda ouvi barulho de tiros enquanto tentava dormir – lamenta o sacerdote.
Enquanto providencia câmeras de vigilância para reforçar a segurança e proteger os fiéis que visitam o local, o padre aproveita para lembrar, a cada um que vai embora, os riscos da região:
– Está tão fácil roubar, tão fácil entrar em qualquer lugar, que hoje basta o momento e a oportunidade. Escuto relatos todos os dias de assaltos, inclusive de vizinhos aqui da paróquia. Tenho que alertar as pessoas para se cuidarem. É hora de clamar por ajuda às autoridades – conclui.
A 6ª Delegacia da Polícia Civil vai investigar o crime. Até o momento ninguém foi preso.