Depois de quase 43 horas de trabalhos ininterruptos, a Câmara dos Deputados finalizou, às 3h42min deste domingo, a fase de discussão da denúncia de crime de responsabilidade contra a presidente Dilma Rousseff. Foi a maior sessão da história da Casa, iniciada às 8h55min da última sexta-feira. Até então, a maior sessão havia durado 22 horas, na aprovação da Medida Provisória dos Portos, em maio de 2013.
A discussão do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO), pela admissibilidade do impeachment de Dilma, teve início com a fala do jurista Miguel Reale Junior, um dos autores da denúncia. Em seguida, falou o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, para apresentar a defesa da presidente. A partir de então, representantes de cada um dos 25 partidos com representação na Casa puderam discursar por uma hora. Esse tempo poderia ser dividido entre até cinco parlamentares da legenda. Os líderes do governo e da minoria tiveram igual tempo de fala.
Nesta fase, iniciada na tarde de sexta-feira e encerrada na tarde de sábado, 96 deputados revezaram-se na tribuna para discursar contra ou favor do impeachment. A cada cinco horas, o presidente da Casa era obrigado, por uma questão regimental, a encerrar a sessão para, em seguida, iniciar outra. A cada nova sessão, os líderes partidários podiam usar a palavra.
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Na fase de discussão para os deputados inscritos, aberta na tarde de sábado, 249 assinaram a lista para falar. Contudo, 119 subiram à tribuna. Cada um deles teve até três minutos para apresentar seus argumentos contra ou a favor da continuidade do processo de impeachment. As discussões foram marcadas por intensas manifestações contrárias à presidente Dilma, pedidos de "Fora, Cunha" e o uso de bordões como "Não vai ter golpe". Deputados favoráveis ao impeachment levaram cartazes com "Impeachment já" e "Tchau, querida", enquanto os governistas exibiam placas contra o que consideram golpe e pela "defesa da democracia".
Houve episódios de bate-boca e tumulto. Por volta das 22h30min de sábado, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) assumiu o microfone para falar no lugar de Helio Leite (DEM-PA), que estava inscrito, mas ausente do plenário. Após protestos de parlamentares contrários ao impeachment, Beto Mansur (PRB-SP), que presidia a sessão, cortou a fala de Fraga. O parlamentar passou então a gritar para deputados governistas:
– Vocês estão com medo, são um bando de corruptos – disse, antes de ser rebatido por parlamentares do governo.
– Aqui não ganha no grito. Sai da tribuna, golpista – rebateram parlamentares.
Fraga desceu, foi a um dos microfones utilizado em apartes e sequer falou. Após críticas de Valdir Prascidelli (PT-SP), ele partiu para cima do petista com o dedo em riste e foi recebido da mesma maneira. Ambos foram separados e o clima se acalmou. Mansur pediu, sem sucesso, "calma e respeito" aos parlamentares e lembrou que a sessão estava sendo transmitida para todo o país.
Na sessão seguinte, logo após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixar o plenário, os deputados Vitor Valim (PMDB-CE) e Sibá Machado (PT-AC) só não brigaram por conta de outros parlamentares e de seguranças, que os separaram. Após Valim discursar e fazer uma série de ataques aos deputados governistas, Sibá pegou o colega pelo braço e disse:
– Você vai estar aqui embaixo quando eu falar? Vou lhe dar um pau. O que é isso, chamar de bandido e safado? – explicou o petista.
Segundo Sibá, a resposta seria dada em seu discurso e não na forma de violência física. Não foi o que imaginou Valim. Ele empurrou o petista e ainda sofreu a mesma reação de Weverton Rocha (PDT-MA), que defendeu Sibá. Para Valim, a reação aconteceu porque ele achou que seria agredido.
– Isso é uma reação de bandido, típica deles – rebateu o deputado cearense. – Isso não dá (a Sibá) o salvo conduto pra ele vir e tocar nos meus peitos – emendou.
Os ânimos foram acalmados e a sessão seguiu com novos discursos, já presidida por Gilberto Nascimento (PSC-SP). Na tentativa de descontrair os parlamentares, Nascimento arriscou até uma piada, ao chamar o deputado sergipano João Daniel (PT).
– Agora vamos ao Estado que não tem como vocação ser automóvel, mas "ser jipe". Aparentemente, a brincadeira não surtiu o efeito esperado e Nascimento não fez mais piadas até o final da sessão.
Na sessão de votação das 14h deste domingo, o primeiro a falar será o relator do pedido, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), com 25 minutos de tempo. Em seguida, haverá o encaminhamento da votação pelas lideranças partidárias e, finalmente, a votação nominal e aberta. Eduardo Cunha prevê que o resultado seja divulgado às 21h.