A cusparada do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) no também deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e as declarações de ambos na votação do impeachment na Câmara intensificaram a onda de intolerância entre os seguidores desses dois políticos. O ódio manifestado nas redes sociais desde a sessão que julgou o processo contra a presidente Dilma Rousseff tem como produtos xingamentos e amizades de Facebook desfeitas explicitamente, tudo ancorado em preferências políticas dos usuários da rede social. Enquanto isso, os protagonistas desse furor virtual ganham ainda mais admiradores.
A página de Jair Bolsonaro no Facebook chegou nesta terça-feira a 2.895.137 curtidas – aumento de 4,4% em uma semana. Somente nos últimos sete dias, o deputado ganhou 121.663 novos seguidores – esse número é 335,5% maior do que o da semana anterior.
O deputado Jean Wyllys tem menos seguidores do que o seu arqui-inimigo, porém o engajamento no Facebook nesta semana foi superior. O aumento de 29,2% garantiu ao defensor das causas gays 1.161.878 curtidas. Nos últimos sete dias, Jean Wyllys obteve 262.500 novos seguidores – esse número é 3.995,2% maior do que o da semana que passou.
Para Patrícia Teixeira, professora do curso de Marketing Político da Universidade de São Paulo (USP), esse fenômeno é explicado pela visibilidade proporcionada pela mídia.
– A gente precisa considerar que há uma parcela da população que pensa como Jean Wyllys e outra como Bolsonaro. Quando tem uma mídia transmitindo as suas ações, isso passa a ser um espetáculo, e há pessoas que se identificam com as falas e atitudes deles.
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Segundo a autora do livro Caiu na Rede. E Agora?: Gestão e Gerenciamento de Crises nas Redes Sociais, quando opiniões são expostas a um número elevado de pessoas, se torna inevitável a repercussão na internet.
– As redes sociais são um grande palco, onde cada um pode fazer o seu show. O problema é que as pessoas não estão sabendo ouvir e se posicionar. Elas se tornaram intolerantes: se eu não penso como você, você se torna uma pessoa ruim.
Agressão na rede
Relatos de agressões e intolerância têm sido cada vez mais frequentes nas timelines e acabaram envolvendo um professor da PUC-RS na segunda-feira. Ao postar no Facebook uma imagem de Jair Bolsonaro junto ao texto que diz "Se você apoia este homem, solicito que me exclua no seu círculo de amigos", Cláudio Mércio, de 48 anos, foi ofendido e ameaçado: "já ta excluído professorzinho de m**** da famecos , seu nada".
Os insultos seguiram no espaço destinado a conversas privadas: "professorzinho de m****", "te cuida seu comunistinha", "tenha olhos nas costas" e ofensas a sua esposa e filha foram proferidas.
– Em geral, eu não faço posts relacionados à política porque tenho alunos de diferentes opiniões. Mas, dessa vez, por ser contrário ao impeachment e por ter a convicção de que não dá para defender um sujeito como Bolsonaro, decidi compartilhar aquela figura. Este cara foi meu aluno e não está mais na faculdade. Conversei poucas vezes com ele e, portanto, achei desproporcional a raiva direcionada à minha pessoa. Ele deve estar com algum problema a mais.
Mércio não decidiu ainda se processará o ex-aluno ou que tipo de ação irá tomar, mas julgou o ódio desferido pelo rapaz como um "ato covarde".
– De alguma forma, você pode se manifestar por argumento. A argumentação é o caminho, não o ódio. O problema é que o Facebook se tornou terra de ninguém e de uma pobreza intelectual impressionante.
Em uma rápida busca no Facebook e no Twitter são encontrados textos que reforçam essa intolerância:
"34 pessoas do meu face que curtem a página de Bolsonaro. Deletei 28. Tô coçando os dedos pra deletar os outros 6."
"Analfabeto político? Minha cara amiga #Jean #Wyllys você é a vergonha de uma classe já."
"Depois de todo mundo presenciar o Bolsonaro elogiando um torturador, eu volto a reafirmar que sim, vale a pena desfazer amizades por conta de política."
"#jean wyllys seu nojentooo, só pode ser amor o q vc sente pelo Bolsonaro, ou uma paixão doentia seu heterofóbico!"
"Não tem problema apoiar o Bolsonaro. O problema é apoiar o Bolsonaro e continuar meu amigo. Por favor, desfaça. Obrigado."
"#jeanWyllys seu verme não use a palavra por todos GLBT porque você é um rato de esgoto e jamais um lixo como você irá me representar, vá para o raio que o parta, seu verme. E aviso uma coisa a esse cara, ele pode até ter dinheiro, mas eu tenho caráter e por mim nem você nem ninguém fala! Seu vendido..."