Ex-ministro de Dilma Rousseff e um dos escudeiros do vice Michel Temer, Eliseu Padilha esteve entre os coordenadores da articulação que resultou na saída do PMDB do governo. Na sua visão, a legenda, apesar das centenas de cargos, sempre foi tratada como "auxiliar de estante" pelo PT. Confira entrevista concedida a Zero Hora, minutos depois da decisão pelo rompimento.
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O PMDB tem o vice-presidente da República desde 2011 e sempre ocupou ministérios. O partido não se sente um dos responsáveis pela crise?
Não. O PMDB nunca foi chamado para formulação política do governo. Sempre foi considerado um auxiliar de estante do PT. Não se pode imputar ao auxiliar a responsabilidade por atos que não ajudou a conceber e a praticar. Além disso, de cada 10 peemedebistas do Brasil, 11 querem candidatura própria em 2018.
Pode ser considerado “auxiliar de estante” um partido com sete ministérios?
Fui ministro de Estado, sei que não adianta ter o ministério se você não consegue nomear o seu secretário-executivo. O PMDB tinha a titulação do ministério, mas, seguramente, o partido não tinha 10% dos cargos da pasta.
Por que a parceria com o PT durou quase dois mandatos?
Porque as circunstâncias, as pessoas e as lideranças eram outras. Agora tudo mudou. Na política, não podemos fazer com que o fato social e político sejam bloqueados. Fomos sendo moldados na medida dos fatos.
Quando o PMDB vai entregar os ministérios e as centenas de cargos que possui?
A moção aprovada diz que, a partir deste momento, ninguém mais deve ter cargo. Os diretórios estaduais, que fizeram o requerimento, estão vigilantes. Se houver resistência, irão à Comissão de Ética do partido. Os verdadeiros peemedebistas sairão. Aqueles que não são verdadeiros, vão cuidar das suas vidas.
Se o partido deixa o governo de vez, não seria mais lógico que Temer renunciasse?
O vice-presidente não sai porque ele foi eleito pelos brasileiros. A Constituição fala em presidente e vice. Ambos têm legitimidade até o momento em que, por circunstâncias de tempo ou outras, o mandato seja extinto.
Petistas dizem que Temer está “no comando do golpe”. Ele trabalha pelo impeachment para assumir o governo?
Sobre essa questão de golpe e impeachment, digo o seguinte: estamos na companhia dos ministros Celso de Mello, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Marco Aurélio, Gilmar Mendes. Eles disseram que o processo de impeachment é legal, tem sustentação constitucional. O Supremo estabeleceu um rito. Quem está cumprindo a Constituição não pratica golpe. Golpe é não respeitar uma decisão da Suprema Corte.
Com o desembarque, articulado por Temer, o PMDB vai apoiar o impeachment?
O vice é por definição constitucional substituto da presidente em seus impedimentos. Não se deve fazer absolutamente nada, é uma questão da sociedade e do Congresso. Os peemedebistas devem ter suas opiniões e podem manifestá-las, mas o partido não tira posição institucional.
Então, Temer não negocia cargos no seu futuro governo?
Essa é a guerrilha que faz todo interessado em desestabilizar o processo. É um factoide que não tem sustentação. Michel se nega a falar sobre futuro governo.