Alvo de investigações da Operação Lava-Jato, a refinaria de Pasadena, no Texas, sofreu um incêndio de grandes proporções neste sábado. De acordo com a Petrobras, proprietária da refinaria desde 2006, um funcionário ficou ferido, mas recebeu atendimento médico e já foi liberado. A companhia não detalhou as possíveis causas do acidente na Unidade de Hidrotratamento de Diesel, por volta de 13 horas no horário de Brasília.
– O plano de ajuda mútua entre a refinaria e as autoridades locais foi acionado e as chamas controladas. Profissionais da PRSI e do Condado de Harris (Harris County) procederam monitoramento da qualidade do ar no entorno da refinaria e nenhum impacto exterior foi identificado – informou a companhia, em nota.
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Bombeiros e policiais trabalharam por cerca de três horas para debelar o fogo. Segundo a imprensa local, a explosão na refinaria também teria provocado abalos em casas próximas à unidade. A fumaça decorrente do fogo também teria provocado fechamento para navegação do canal de Houston, além de vias e um túnel próximos à unidade.
A Petrobras informou que houve "bloqueio preventivo" das vias, que já tiveram o tráfego liberado. A estatal indicou também que a refinaria continua operando e tem todas as autorizações de funcionamento dos órgãos americanos. As estimativas iniciais apontam para a queima de pelo menos 35 mil barris de óleo durante o incêndio – o segundo na unidade após a aquisição pela Petrobras. Em 2011, a refinaria também sofreu uma explosão, sem feridos.
Investigação
Um dos contratos sob suspeita de desvios na estatal é, justamente, o de reformas e vistorias de segurança na refinaria. Firmado em 2010, o contrato no valor de US$ 872 milhões com a Odebrecht previa a realização de reparos em diversas unidades internacionais da estatal, entre elas, Pasadena. O contrato é investigado desde 2011 pelo MPF e TCU por ter indícios de superfaturamento em mais da metade dos oito mil itens contratados.
O caso foi revelado em 2013. Um ano antes, uma série de reportagens já havia denunciado as irregularidades na aquisição da refinaria, ocorrida em 2006. O caso foi o estopim para as investigações da Operação Lava-Jato, iniciada em 2014 nas áreas Internacional e de Abastecimento da Petrobras, ambas envolvidas na compra da refinaria.
A Petrobras adquiriu 50% das ações da refinaria com a empresa belga Astra Oil por US$ 360 milhões em 2006. Um ano antes, a empresa havia adquirido toda a refinaria por US$ 42 milhões. Após seis anos de litígio com a sócia belga, a companhia comprou os 50% restantes, somando mais US$ 840 milhões ao custo do negócio. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), o negócio orçado em US$ 1,2 bilhão gerou um prejuízo à estatal de US$ 792 milhões.
Na época da compra, Dilma Rousseff era presidente do conselho de administração da Petrobras e votou a favor da compra de 50% das ações da refinaria, proposta pelos ex-diretores Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró. Na última quinta-feira, a suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral trouxe o nome da refinaria de volta ao noticiário.
Segundo o parlamentar, a presidente Dilma tinha conhecimento das irregularidades ocorridas na compra da refinaria. O depoimento indica ainda que, mesmo sabendo das irregularidades, a presidente atuou para manter Nestor Cerveró em cargo de diretoria na Petrobras, à frente da área financeira da BR Distribuidora.
O ex-diretor também fez delação premiada sobre os desvios na compra da refinaria e detalhou pagamentos de propina ao senador Delcídio do Amaral e a outros parlamentares. Cerveró também indicou que Dilma o pediu para "acelerar" o trâmite da compra e que tinha conhecimento de todas as informações sobre o negócio. A presidente nega as acusações.
Dilma informou à Procuradoria Geral da República, ainda em 2014, que não tinha conhecimento de cláusulas desfavoráveis à estatal no contrato de compra. Segundo ela, os conselheiros da estatal basearam seus votos em um relatório "técnico e juridicamente falho", produzido por Cerveró.