Para o cientista político e diretor da Augurium Consultoria Bolívar Lamounier, 72 anos, autor de obras como Tribunos, profetas e sacerdotes – Intelectuais e Ideologias no Século XX (2014), a polarização é fruto de crimes cometidos por governos petistas. Apoiador da campanha de Aécio Neves na última eleição, também defende o impeachment de Dilma.
Como o senhor vê a atual polarização do cenário político brasileiro? Até onde a radicalização, seja à direita ou à esquerda, pode chegar?
De fato, está crescendo bastante, por causa da debilidade do Congresso e da presidente Dilma, então fica um embate direto dos acusados de ilícitos criminais, como é o caso de Lula, com a Justiça. E isso acaba indo para a rua, virando um enfrentamento dos dois lados. Acho que, para continuar da forma como está nos últimos dias, só se Lula fosse muito imprudente e ficasse convocando, como fez na sexta-feira (dia 4). Naquele dia, até compreendo, ele queria aproveitar a oportunidade para capitalizar politicamente o fato de ter sido conduzido coercitivamente. Mas na chamada para as passeatas, já vejo uma certa cautela. O pessoal contra o impeachment queria forçar a barra e marcar manifestação para a Avenida Paulista (em São Paulo) no mesmo horário no domingo, mas o governador disse que não permitiria.
Em que medida o discurso do ex-presidente Lula, do "nós contra eles", contribui para o acirramento dos ânimos?
Ele sempre usou esse discurso. Há cerca de um ano e meio, quando nem era tão dramática a situação, ele falou do exército do (Pedro) Stédile naquele abraço da Petrobras. Ele sempre usou essa imagem. Em parte para blefar, mas todo blefe tem um quê de verdade. A imprudência dele é que pode levar a fatos mais graves. Se se comportar com um pouco de realismo, isso não vai acontecer.
Grupos a favor e contra Lula e o PT têm travado uma guerra nas redes sociais, com a proliferação de notícias e xingamentos, e também empurra-empurra durante as manifestações.
É, está bem violento. Mas, infelizmente, é a situação que o país está vivendo, com a conduta do governo petista. Tenho de tomar um partido nesta questão. Com o que aconteceu na Petrobras, não há o que discutir. O PT se organizou para assaltar a Petrobras, isso é a raiz do que estamos vivendo. Dizer que o Lula não sabia é um escárnio. O juiz pode postergar uma decisão porque precisa de prova material, mas o cidadão que acompanha os fatos sucessivamente obviamente não acredita. A origem do que está acontecendo é a conduta do governo petista. Como o PT é um partido de massas, era fatal que reagisse. A polarização só vai ser superada quando, judicialmente, se chegar a uma decisão.
Por que é difícil para os partidos envolvidos nesses escândalos fazer autocrítica? O discurso é sempre de que o outro também roubou.
Enquanto era caixa 2 eleitoral, isso até colava. Dava para dizer que era verdade, mesmo que não fosse na mesma extensão que o Lula dizia. Mas o que se passou na economia, agravado imensamente pelo escândalo da Petrobras, é uma coisa milhares de vezes maior, sem precedente na história brasileira. Foi a desmoralização da maior empresa brasileira, com repercussões no Exterior. A palavra autocrítica não funciona mais porque agora se trata de crime. Eles tentam ganhar tempo colocando a culpa nos outros, achar uma forma de não serem presos, porque se não fizessem isso equivaleria a uma confissão.
Que consequências o senhor acha que o cenário atual vai ter para o país?
A consequência vai ser muito boa. Poderá haver brigas localizadas e episódios desagradáveis, mas no todo vai ser muito bom para o país. Começar um combate enérgico à corrupção, mostrar que existe um Poder Judiciário, que ninguém é acima da lei. Estamos tocando em pontos fundamentais da democracia. Sem tempestade a gente não chega ao lado de lá. Todo país tem algum momento na história em que tem de enfrentar alguns problemas fundamentais. O Brasil demorou demais. O cartel das empreiteiras, por exemplo, está rolando há séculos. E só agora estamos enfrentando.
A presidente Dilma resiste?
Não. Ela não tem nenhuma condição de governar. Quanto mais continuar, mais vai afundar o país. O caminho mais curto e indolor seria a renúncia.