O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, encerrou a visita de 48 horas a Cuba com um histórico pronunciamento em que pregou a reaproximação entre os dois países e se comprometeu a trabalhar pelo fim do bloqueio econômico à nação caribenha. Ele afirmou que a viagem serviu também para 'acabar de vez com os últimos resquícios da Guerra Fria nas Américas'.
– É hora de deixar o passado para trás – disse o presidente. – Vai levar tempo e não vai ser fácil. Mas poderemos caminhar juntos, como amigos, como vizinhos, como uma família.
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Na pequena ferragem que a família Torres mantém em Centro Havana, uma antena de TV foi colocada do lado de fora, na rua, na tentativa de sintonizar o canal da emissora estatal cubana. Otávio, o patriarca, pontuava a pronunciamento com comentários elogiosos:
– É um homem de boas intenções. Quer o melhor para todos. Só espero que o partido dele vença a eleição para continuarmos evoluindo.
Houve três momentos em que os Torres aplaudiram. Quando Obama defendeu a eleição direta como sistema adequado para a definição de governantes, ao citar José Martí, líder da independência de Cuba, e, ao final, ao falar em espanhol 'Si, se puede!'.
– Olhemos para o futuro. Não vamos perder tempo, vamos agir como vizinhos amigos – concluiu.
O discurso otimista do presidente americano marca o encerramento da visita que rompeu uma barreira importante nas relações bilaterais entre os dois países. Medidas práticas que beneficiem o povo, no entanto, poderão levar mais tempo para se materializar. As viagens de cubanos para os Estados Unidos, por exemplo, ainda estão atreladas a um rigoroso processo burocrático e subjetivo. Desde o ano passado, o lavador de carros Raidel Ramirez tenta, em vão, um visto americano para visitar a filha, que mora Flórida.
– Desde que a embaixada americana foi reaberta aqui, já solicitei o visto quatro vezes. Sempre me negaram. Meus amigos sugerem que eu viaje ao México e entre pela fronteira. Isso não farei. Quero entrar nos Estados Unidos de cabeça erguida – disse.
Antes de deixar a ilha, à tarde, Obama ainda prestigiou um jogo de beisebol, paixão nacional tanto em Cuba quanto nos EUA. Na arquibancada, ele e Raúl Castro, muito animados, sentaram-se lado a lado. Quando a câmera mostrou-os nos telões do estádio, os espectadores vibraram como se um dos times tivesse feito ponto. Neste caso, todos saíram ganhando.
Nas alturas
As diárias em hotéis de Havana onde se hospedou a comitiva americana que serviu de apoio à visita de Obama chamam a atenção pelos valores. No Hotel Plaza, em Centro Havana, um dos melhores da capital, a estadia custa US$ 400. Um assessor diplomático da embaixada do México, que viajou a Havana para auxiliar na missão, contou-me que, mesmo com as reservas feitas três semanas antes, o preço cobrado para os americanos foi às alturas: US$ 700. Mesmo assim, quase todos os quartos do espaçoso hotel foram ocupados por eles.
Liberado
Não há qualquer restrição ao consumo de cigarros – e charutos – em ambiente fechado em Cuba. Logo, num lugar com 150 jornalistas, nuvens de fumaça estão muito presentes. Alguns correspondentes americanos se fartam com Cohibas, o mais famoso charuto cubano – o preferido de Fidel.
'Está mudando, e não é ruim'
Angel, 76 anos, é o cubano com idade mais avançada que encontrei na recepção ao presidente Obama, no centro de Havana. Ex-soldado, aderiu ao movimento revolucionário que tomou o poder em 1959. Hoje, já não quer mais falar em política.
– Isso é coisa para os mais novos que estão no governo. Cuba está mudando, e isso não é ruim.
Por mais novos entenda-se dirigentes como o chanceler Bruno Parilla, estrela do Partido Comunista Cubano, um dos principais responsáveis pela recepção de Obama em Cuba.
Fila do pão
Para comprar comida em Havana é preciso paciência e tempo. Filas enormes se formam nas padarias e nos pequenos mercados que têm licença para funcionar – e a espera pode chegar a uma hora. Há, ainda, o comércio informal, que opera na clandestinidade. Hipermercados são operações desconhecidas dos cubanos. Numa das padarias estatais da cidade, ontem à tarde, mais de 40 pessoas aguardavam a saída de uma fornada.