Duas manifestações distintas, em locais diferentes e de lados opostos. Uma respeitando o espaço da outra e vice-versa. Sem chances de confronto. Essa é a base dos discursos adotados, tanto pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS) quanto pelo Movimento Brasil Livre (MBL), para os protestos marcados para o próximo domingo, em Porto Alegre. Não há clima de tensão, garantem os manifestantes.
– Não temos preocupação com isso. Nosso público é totalmente pacífico. A partir das recomendações da polícia, vamos seguir o que for melhor – diz a porta-voz do MBL, Paula Cassol Lima.
– Não iremos caminhar para o lado da outra manifestação. Temos a nossa pauta, nosso conteúdo na Redenção e também queremos que eles não venham nos encher o saco – acrescenta o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.
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O "acordo de paz" foi construído depois que a CUT convocou manifestação para ao mesmo dia do MBL. Diante da possibilidade de incidentes, a Brigada Militar iniciou um processo de negociação com ambas as partes para evitar tumultos em um eventual encontro indesejado. Por isso, a orientação oficial é para que cada um se manifeste apenas no local marcado, sem marcha ou caminhada pela cidade.
A CUT-RS, que decidiu manter a manifestação apesar da orientação nacional pedindo o cancelamento do ato, vai iniciar a concentração por volta das 11h no Parque da Redenção. Às 14h, a entidade sindical promove o chamado "coxinhaço", uma ação criada para ironizar o público que protesta pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O presidente da entidade entende que, apesar das recentes denúncias contra Lula e contra o governo do PT, o movimento segue fortalecido.
– Nosso público que vai às ruas é bem resolvido politicamente. Todos que estão atuando contra o PT estão na pauta do golpe, que é contra os trabalhadores. Os fatos recentes são todos denúncias, não há nada concreto, nenhum julgamento. Tudo faz parte de um movimento orquestrado dos golpistas – salienta Nespolo.
Do outro lado, o MBL programou encontro dos manifestantes para 15h, no Parcão. Segundo Paula Cassol, as principais preocupações dos manifestantes são com a atual situação da economia brasileira e a crise política. Saindo o governo, diz ela, resolvem-se os problemas.
– Costumam dizer que queremos o golpe, mas é a maior asneira que alguém pode falar. Queremos ver uma mudança política. A falta de confiança do mercado, esse perfil populista não atrai investidores. A única forma de melhorar é alterar o governo e a política de governo. Precisamos limpar o país. Essa manifestação não é do PSDB, não é do Aécio (Neves). É de um grupo político apartidário, do povo que está indo para as ruas – explica.
"Não permitiremos que se encontrem", diz Ikeda
O Comando de Policiamento de Porto Alegre (CPC) está trabalhando desde o início da semana no processo de negociação com os dois lados das manifestações. Desde então o principal pedido da Brigada Militar foi de que não haja um encontro entre os grupos para evitar um possível confronto em função da divergência política.
O tenente-coronel Mário Ikeda, comandante do CPC, diz que a polícia pode até aceitar caminhadas no entorno dos locais programados para os atos, mas que não irá permitir que os movimentos se cruzem nas ruas. Ainda não há uma definição de esquema de segurança para a data porque a polícia ainda depende de uma estimativa de manifestantes. Porém, tanto CUT-RS como MBL não têm essa previsão até o momento.
– Queremos um evento seguro e de livre manifestação. Não permitiremos que os dois grupos antagônicos se encontrem em marcha. Pedimos que todos se manifestem de maneira tranquila e ordeira. Para isso, havendo um grande número de pessoas, o mais seguro é que eles permaneçam no mesmo local – afirma Ikeda.
No ano passado, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) montou um protocolo de ação integrada das forças de segurança para dar respostas mais rápidas e enérgicas no enfrentamento de distúrbios sociais. Porém, segundo Ikeda, esse plano não se enquadra para a mobilização deste domingo.
– Esse protocolo é destinado a ações que visam causar transtorno em vias públicas da cidade para chamar atenção e ter reivindicações atendidas. Não é o caso. Primeiro porque é domingo. Segundo que já há uma ampla divulgação dos locais dos protestos, uma comunicação prévia. São movimentos organizados – esclarece o comandante do CPC.
*Zero Hora