A tentativa de enterrar o processo de cassação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria envolvido a falsificação da assinatura de um deputado federal. Esta é a conclusão de dois laudos grafotécnicos encomendados pelo jornal Folha de S. Paulo.
Conforme a publicação, a assinatura de renúncia à vaga de titular no Conselho de Ética do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP), que foi entregue ao órgão por aliados de Cunha, é uma falsificação "grosseira" e "primária". O deputado, também aliado a Cunha, não estava presente na noite do dia 1º de março e na madrugada do dia 2, quando foi aprovado, por 11 votos a 10, a continuidade do processo de cassação contra o presidente da Câmara.
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Se não tivesse renunciado, quem votaria seria o suplente de Gurgel - um deputado do PT, opositor a Cunha. Com a renúncia, ficou aberta a possibilidade de o PR indicar outro deputado pró-Cunha para tentar vencer a votação: Maurício Quintella Lessa (AL).
Ainda segundo o jornal, na noite do dia 1º, o presidente da Câmara esticou uma sessão do plenário de forma atípica até depois das 23h. O objetivo era atrasar a votação no Conselho, que só poderia ocorrer após plenário encerrar suas atividades.
Foi pouco antes deste horário que a carta de renúncia de Gurgel chegou ao Conselho e permitiu que, seis minutos depois, fosse feita a indicação de Quintella Lessa, que votou a favor de Cunha.
Em resposta à acusação, Gurgel afirmou que, embora estivesse fora de Brasília no dia da votação, havia deixado em seu gabinete diversas cartas de renúncia assinadas. Segundo ele, a conclusão da perícia pode ter decorrido da tremedeira por tê-las assinado "de ressaca":
– Se eu assinei com pressa, se eu estava (de) porre, se eu tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me batendo por isso – afirmou.
Apesar do suposto esquema, a decisão de continuar o processo contra Cunha foi mantida.