No alto da Vila Vargas, em Sapucaia do Sul, flores e folhagens estão nascendo onde um lixão, por anos, consumiu as terras vermelhas.
Ainda está em fase de implantação o jardim que surge na Rua Beira Campos, em frente à Rua General Cruz, nas floreiras improvisadas nos mais de cem pneus antes abandonados. Mas já há motivos para fazer a idealizadora, a servente de limpeza aposentada Luíza Pinto, 65 anos, moradora da General Cruz, sorrir – algo que ela confessa que, até então, não estava acostumada.
Da primeira muda plantada, surgiram outras trazidas pelos vizinhos. Aos poucos, os moradores da região passaram a auxiliá-la. Cada um da sua forma. Enquanto um planta, o outro capina, e mais um distribui água. Não falta ajuda. Luíza constata que, cada vez mais, aumenta a parceria da vizinhança.
Mesmo sem saber ler ou escrever, Luíza deu uma lição ao poder público e àqueles que viam do portão o lixo se acumulando e avançando sobre a via.
Indignação
"Por muitos anos, eu passava na frente daquela montanha e me revoltava. Vinham pessoas de muito longe largar todo o tipo de lixo. Tinha até bicho morto. O cheiro era insuportável e o lixo chegava na rua. Sempre quis fazer algo para mudar aquele lugar, até que a uma máquina da prefeitura veio e fez a limpeza. Não perdi tempo: arranquei um pé de flor da minha casa, fui lá e plantei. Acreditava que com uma flor ali o povo ia respeitar."
União
"A coisa cresceu rápido. Muitos começaram a se oferecer para ajudar. Um morador veio com uma mudinha de flor e outro, com uma de folhagem. Uma outra vizinha pediu para plantar. Outro vizinho conseguiu os pneus e mais mudas. Nunca teve uma união assim aqui nesta parte da vila. Fiquei bem feliz."
Mosquitos
"O jardim ainda está ganhando forma. Estamos tentando uma doação de tinta para pintar os pneus e deixar o espaço mais bonito. Não tivemos nenhuma ajuda da prefeitura ou de políticos. Tudo o que foi feito aqui foi com a única finalidade de acabar com o lixão. O melhor de tudo isso é que acabamos também com os mosquitos e as moscas."
Cidadã
"Eu gosto muito de flor, adoro estar mexendo na terra. Faz bem até para a minha saúde. Na minha casa não há cantinho que esteja sem flores. Uma vida florida é mais bonita. Pensei num nome para a nossa iniciativa e ela vai se chamar Jardim da Comunidade. Este não é o meu jardim. É de todos. A única coisa que fiz foi um serviço como cidadã."