A partida entre Inter e Passo Fundo ainda estava zero a zero quando cinco homens entraram no bar da esquina da Rua dos Andradas com a General Portinho, no Centro Histórico de Porto Alegre. Eram 19h50min de quinta-feira, quando os criminosos atiraram pelo menos 50 vezes, matando duas pessoas. Uma delas era o professor de Geografia Marcos Cleober Ayres, 42 anos, que estava no estabelecimento para assistir ao jogo de seu time – o alvo, aponta a polícia, era a outra vítima.
Segundo uma familiar, que prefere não se identificar, a TV por assinatura de Ayres estava sem sinal no momento do jogo. Morador da Rua dos Andradas, ele teria descido de seu apartamento para o bar para acompanhar a partida.
– Ele havia buscado a mãe dele em Canoas, que havia caído e quebrado o pé, e a levado para o hospital. Depois que ele deixou ela em casa, viu que a Sky não estava pegando, e foi para o bar – conta a familiar.
– Ele não era fanático pelo time, mas gostava de acompanhar as partidas – disse a familiar.
Conforme ela, Ayres estava afastado da sala de aula há alguns meses. O motivo era a dedicação a uma segunda carreira, a de músico. Com algumas canções autorais inéditas e prontas para gravar, planejava estrear com uma nova banda. Os detalhes do projeto ainda estavam guardados.
A música – e, principalmente, o rock – era uma das principais ligações com seus alunos, nos tempos de professor. Quem conta é a diretora da Escola Estadual Antônio Francisco Lisboa, de Canoas, Mabel Luiza Leal Vieira, onde Marcos lecionou há alguns anos.
– Ele era cabeludo, ao estilo roqueiro e bem moderno. Os alunos gostavam dele, porque se identificavam. Ele dava uma aula diferente, todos gostavam – lembra Mabel.
Alguns ex-estudantes confirmaram o que disse a professora em comentários postados no perfil da escola no Facebook. "Ele era o melhor professor que o Lisboa já teve. Vá em paz querido professor", escreveu Katiucia Severo, 22 anos, que foi aluna de Ayres na 5ª série.
Entre os funcionários da escola, as lembranças são semelhantes. "Lamento o ocorrido com o 'Marquinhos', como costumava chamar. Um grande professor, divertido e inteligente. Fica a lembrança de suas gargalhadas, que muito divertiram nossos dias", escreveu Patricia Quintão.
Pai de um casal de gêmeos de 14 anos, Ayres deixa ainda um irmão, a mãe e uma namorada. O velório e o sepultamento ocorrem em Canoas.
Um dos cinco suspeitos de terem matado o professor Marquinhos confessou à polícia que o objetivo do grupo era matar a outra vítima, identificada como Luan Silveira da Silva, o Sequinho, 21 anos.