O novo chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, assumiu nesta quinta-feira o cargo em substituição a Guilherme Wondracek, que comandava a corporação desde 2014. Wendt foi apresentado pelo secretário de Segurança Pública, Wantuir Jacini, que elogiou o trabalho desenvolvido por ele à frente do Denarc e pediu que a metodologia de combate ao tráfico seja empregada em outros departamentos. O governo do Estado, porém, não prometeu a contratação de novos servidores e promoções devido à crise financeira.
Esta foi a principal reclamação de Wondracek, que afirmou a Zero Hora, na última quarta-feira, ser "desesperadora a falta de servidores". Emerson Wendt deve organizar sua equipe até sexta e pretende conversar com os colegas para buscar formas de motivar os policiais dentro da realidade de equipes reduzidas. A primeira medida, de acordo com ele, é a análise das horas extras e diárias disponíveis nos departamentos para serem distribuídas como forma de incentivo.
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Wendt falou que atua com metas e inteligência e que combaterá principalmente o tráfico de drogas, roubo de carros e assassinatos – em uma década, o índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) subiu 70% no Rio Grande do Sul. Além disso, 2015 registrou o maior número de roubo de veículos da história gaúcha, com 38.551 ocorrências registradas.
– Missão dada é missão cumprida. Vamos procurar levar o dinamismo de toda a equipe do Denarc para a Polícia Civil como um todo – disse Emerson Wendt.
– O pessoal sabe que sou bastante exigente, cobro resultado. A gente precisa trabalhar para que a sociedade se sinta mais segura – complementou.
Sem previsão de novas contratações
Wantuir Jacini descartou contratações imediatas de novos servidores e salientou que a convocação dos aprovados em concursos em 2014 depende de "equilíbrio fiscal". Ele explicou que não é possível empregar PMs temporários agora, pois a lei define que, antes, é necessário chamar os concursados. Jacini também alegou que o governo tenta primeiro pagar em dia os servidores na ativa antes de ampliar os cargos:
– O governador José Ivo Sartori e o secretário de Segurança, na ordem, são os maiores interessados em convocar os aprovados em concurso para a realização de cursos e, consequentemente, a alocação nas instituições policiais. Acontece que o Estado passa por dificuldades severas na questão orçamentária.
Uma das preocupações imediatas do novo chefe de Polícia é com o parcelamento de salários. Wendt comentou que buscará compensar essa possibilidade para manter as equipes motivadas:
– Certamente é um temor, que acaba afetando. Vamos trabalhar de uma maneira estratégica que compense isso.
Para especialistas, falta estratégia no combate à criminalidade
Na avaliação de especialistas ouvidos nesta quinta-feira por Zero Hora, a mudança na chefia de Polícia do Rio Grande do Sul passa longe da solução para diminuir os indicadores criminais que assustam os gaúchos. Sem um programa de médio a longo prazo – que não passa necessariamente pela contratação de policiais –, os pesquisadores da violência urbana entendem que pouca coisa deve mudar.
Um exemplo de planejamento citado é o de São Paulo – que registrou queda de 12,5% no número de assassinatos em 2015 –, onde o Plano de Policiamento Inteligente (PPI) computa semanalmente os dados dos bairros perigosos das cidades e os tipos de crimes mais praticados neles para uma ação orientada que otimiza tempo e energia das forças de segurança. Um dos participantes do PPI, o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho explica que é preciso implementar um método de ações frequentes e não esporádicas, focados em estatísticas, que ultrapasse governos e questões políticas e fique entranhado na cultura das polícias.
Em Caxias do Sul, que foi o único dos dez municípios mais populosos gaúchos a apresentar queda nos homicídios na última década, conforme dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), está outro exemplo que deve ser copiado, segundo Rodrigo Azevedo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Na cidade serrana, reduto eleitoral do governador José Ivo Sartori, o policiamento comunitário e a política de prevenção funcionam e têm trazido resultados, mesmo com a crise financeira e o baixo investimento.
– O governador José Ivo Sartori deveria olhar para o local que o projetou, mas ele não dá atenção para a prevenção. A troca de comando ser solução está mais para mágica. Wondracek, que é uma pessoa respeitada na corporação, sai bastante insatisfeito, e com motivos – diz Azevedo.