Consenso entre especialistas, impedir a queda de árvores durante o temporal de sexta-feira da semana passada, quando o vento chegou próximo aos 120km/h, seria inevitável. Mas isso não minimizou a comoção dos porto-alegrenses que depararam com o verde que caracteriza a Capital debruçado sobre calçadas e vias. Perder 3 mil de suas mais nobres inquilinas impactou a quarta cidade mais arborizada do Brasil entre aquelas com mais de 1 milhão de habitantes, segundo o IBGE.
Passado o susto e restabelecida a normalidade, o trabalho se volta para a reabilitação das plantas que foram danificadas pelo vendaval. Justamente o manejo é criticado pelo presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Leonardo Melgarejo. Para o agrônomo, há uma gestão inadequada por parte da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam), o que teria contribuído para perda excessiva de plantas:
- Esse drama que vivemos recentemente (queda de árvores) seria minimizado se tivéssemos plantas sadias, podadas adequadamente ao longo do ano.
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As árvores que tombaram, deixando suas raízes à mostra, evidenciam, segundo Melgarejo, que não havia espaço para o seu desenvolvimento subterrâneo, ou que tiveram as raízes atoradas.
- Essas árvores sadias caíram porque as raízes, por uma série de erros, não tiveram força para segurar o vento. O que há em Porto Alegre é um gerenciamento da cidade, e as árvores estão sendo considerados empecilhos.
O presidente da Agapan defende um programa de gestão de árvores e de reflorestamento, caso contrário, irá demorar para a cidade recuperar a paisagem que tinha antes do anoitecer daquela sexta-feira.
- Árvores como as da Rua Gonçalo de Carvalho tinham cerca de cem anos. Será difícil vermos aquela paisagem novamente.
O secretário do Meio Ambiente, Mauro Gomes de Moura, diz que a maioria das árvores que caíram estavam sadias e ressalta que os funcionários responsáveis pelo manejo passam por treinamento e seguem todas as normas.
- Foram atingidas árvores novas e sadias, que cairiam de qualquer forma devido à intensidade do vento. Se temos uma cidade arborizada, quando ocorrerem eventos desse tipo, teremos quedas de árvores.
O agrônomo da Fundação Zoobotânica Jorge Dupont corrobora a afirmação:
- Muitas eram árvores altas, que estavam sujeitas ao tombamento. Além disso, os alagamentos constantes vão enfraquecendo as raízes.
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Sobre o rearborização das áreas atingidas, Moura argumenta que não haverá dificuldade, mas que esse é um passo a ser dado mais adiante.
- Estamos removendo e podando para que as árvores possam se recuperar e para garantir a segurança das pessoas.
Pensando em eventos futuros, a prefeitura estuda o desenvolvimento de um banco de dados com informações e localização de cada árvore existente. Levantamento facilitará a identificação da necessidade de manejo, permitindo maior eficiência na tomada de decisões preventivas. Permitirá, ainda, conhecer os locais mais adequados para novos plantios.
- Estamos planejando fazer aos poucos, pois o custo é muito alto - explica Moura.
Por meio de convênio firmado com a prefeitura há quase uma década, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) tem autonomia para fazer as intervenções necessárias na Capital e, assim, evitar que as árvores entrem em conflito com a rede elétrica. Segundo o gerente regional metropolitano da concessionária, Jeferson de Oliveira Gonçalves, o contrato exige que sejam seguidas técnicas de podas e oferecido treinamento às equipes.
- Nos nossos estudos, 700 mil árvores existentes em Porto Alegre têm algum tipo de conflito com a rede e não há nenhuma morte de árvore registrada em razão de podas da CEEE.
A concessionária investiu R$ 3,2 milhões em podas no ano passado, quando 40 mil árvores receberam intervenções. Já a Smam realizou ações de manejo em 16.809 árvores em 2015.