O Ministério Público argentino denunciou nesta quarta-feira um ex-ministro suspeito de pagar propina para que uma empresa da Petrobras Argentina fosse vendida em 2007 a uma companhia alinhada ao kirchnerismo, em um desdobramento internacional da apuração da Operação Lava-Jato. A acusação contra Julio de Vido, titular da pasta de Planejamento no governo de Cristina Kirchner (2007-2015), partiu de declarações do delator e ex-diretor da multinacional brasileira Nestor Cerveró à Procuradoria-Geral da República.
Antes de acertar sua delação premiada, ele relatou ter recebido US$ 300 mil em suborno para que a empresa de transmissão elétrica Transener, pertencente então à Petrobras Argentina, fosse vendida à Electroingeniería, ligada ao governo de Cristina. Ela estava a ponto de ser negociada por US$ 54 milhões com um fundo americano, segundo Cerveró.
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Conforme o jornal Clarín e o portal Infobae, a medida do promotor argentino Gerardo Pollicita atende à solicitação da deputada Elisa Carrió, que acusou no dia 19 de janeiro o ex-ministro por possível delito de corrupção no esquema investigado pela Lava-Jato e pediu uma investigação binacional. A parlamentar, aliada do presidente Mauricio Macri e porta-voz de algumas das principais acusações de corrupção no governo de Cristina, envolveu também um ex-ministro de Carlos Menem (1989-1999), Roberto Dromi.
Pollicita solicitou ao juiz Sebastián Ramos que reúna provas, incluindo o pedido de acesso às declarações de Cerveró e do lobista Fernando Baiano, que se referiu a uma propina no mesmo valor. O promotor pede que a Justiça formalize o indiciamento do ex-ministro, que hoje goza de imunidade parlamentar como deputado federal.
Em janeiro, De Vido negou as acusações pelo Twitter:
– O que fizemos foi cumprir as leis nacionais e evitar a integração de um monopólio e o abuso de poder pela Petrobras – escreveu.
Pollicita ficou conhecido no ano passado por levar adiante a denúncia do promotor Alberto Nisman contra ex-presidente Cristina, acusada de proteger iranianos suspeitos de praticar o atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia) em 1994, que matou 85. Nisman sustentava ter gravações que provavam um pacto comercial entre Argentina e Irã para evitar a condenação dos suspeitos. Ele foi encontrado com um tiro na cabeça quatro dias depois de fazer a denúncia e na véspera de detalhá-la no Congresso. Sua acusação foi arquivada em maio.