Funk improvisado, gargalhadas e zoeira ao ar livre para alegrar o trabalho. A segunda-feira foi diferente para cerca de 60 apenados do regime semiaberto de Porto Alegre e Região Metropolitana. Sem emprego, eles foram escolhidos pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) para ajudar na limpeza de ruas e calçadas da Capital, atingida por uma forte tempestade na última sexta-feira.
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Na Rua Joaquim Nabuco, Cidade Baixa, 20 apenados do Instituto Penal de Charqueadas (IPCH) fizeram o serviço braçal monitorados de perto por três agentes penitenciários armados. Todos juntos, recolheram galhos e troncos da via para carregar um caminhão que acompanhava o trabalho. Atrás deles, funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) passaram varrendo o que sobrou.
A sensação de liberdade e trabalho motivou Fábio, 27 anos, condenado a seis anos e oito meses por um assalto, ocorrido em 2014. O serviço contou para a remição de pena e despertou a vontade de ter dias semelhantes.
– Queremos trabalho, serviço. É bom para a mente. Fazendo isso, a gente ajuda a cidade, sai daquela nossa rotina. É a melhor coisa – disse.
Todos os apenados que trabalharam na Rua Joaquim Nabuco eram da mesma facção, segundo os agentes penitenciários. Para evitar qualquer tipo de confusão, aqueles que representavam grupos diferentes foram deslocados para outras vias da cidade, como Erico Verissimo, Lima e Silva e Teixeira de Carvalho. Eram presos de Gravataí, do Instituto Penal Irmão Miguel Dario e Patronato Lima Drummond.
– Eles são do semiaberto, mas são presos, né? Então, estão sob vigilância o tempo inteiro. Não dá para tirar os olhos deles – comentou Nelson Júnior, um dos agentes penitenciários que estava na Cidade Baixa.
A atividade teve a aprovação da servidora municipal Patricia Cunha, que reside há 12 anos em uma casa na Joaquim Nabuco. Ela se escorou no portão para acompanhar, ao lado do marido, o serviço de limpeza da rua.
– Isso é maravilhoso, né? Tem de colocar esse povo para trabalhar também. Não é só ficar comendo e bebendo às nossas custas – disse a funcionária da Secretaria Municipal de Educação (Smed).
– Até para eles é bom, se sentem úteis – acrescentou o marido Gener Rodrigues, servidor da Guarda Municipal.
Além de mostrar serviço, os apenados também expressaram insatisfação com a gerência do IPCH. Segundo o relato de todos eles, que se agruparam para mandar a mensagem, o presídio fica distante das oportunidades, o que dificulta a busca por emprego. Sem poder sair, já que oficialmente não têm um trabalho formal, dizem que acabam parecendo presos do regime fechado.
_ Lá a gente não tem oportunidade para trabalhar. Ficamos oprimidos, sem espaço, sem nada. A casa não libera ninguém. Aqui em Porto Alegre seria mais fácil de achar serviço. Por isso todo mundo quer transferência _ diz Jailson, 29 anos, condenado a 20 anos, três meses e 15 dias por um homicídio, em 2007.
A Susepe informou que os apenados do IPCH podem arranjar emprego em Porto Alegre desde que os horários do estabelecimento penal sejam respeitados, após a devida autorização da Justiça.
"A Susepe viabiliza a mão de obra prisional, inclusive fornece trabalho interno, mas não tem como oferecer para todos. É um esforço conjunto com a sociedade", diz um trecho do comunicado enviado pelo órgão.
* Zero Hora