Primeira mulher a assumir a presidência da Assembleia em 180 anos, a deputada Silvana Covatti (PP), 52 anos, toma posse nesta quarta-feira com o desafio de conquistar a confiança de seus pares e mostrar que pode comandar uma sessão com pulso firme. Ela quer, também, provar que tem luz própria e não vive à sombra do marido, o ex-deputado Vilson Covatti. No terceiro mandato, admite que da primeira vez se elegeu apenas por ser "a esposa do Covatti".
Os dois são casados há 32 anos e fizeram da política o centro de suas vidas. Silvana debutou nas campanhas trabalhando para eleger o marido, que foi três vezes deputado estadual e chegou à presidência da Assembleia em 2003. Em 2017, quando passar o cargo para o deputado Edegar Pretto (PT), a galeria dos ex-presidentes terá, pela primeira vez, um casal com o retrato na parede.
Filha de um mecânico e de uma dona de casa, Silvana era normalista em Frederico Westphalen quando conheceu Covatti. Casaram-se quando ela tinha 18 anos e ele, 26. Tiveram três filhos: Viviana (advogada), Francieli (relações internacionais) e Luiz Antônio (o deputado federal Covatti Filho).
Para cuidar das crianças, teve de interromper os estudos e não conseguiu exercer o magistério, mas se define como professora. Lembra que a primeira deputada da história da Assembleia, Sueli Gomes de Oliveira, eleita há 65 anos, também era professora primária.
Sua atuação na presidência será assentada em três pilares: participação, igualdade e gestão. Uma das primeiras providências foi montar uma assessoria técnica de qualidade, para funcionar como rede de proteção contra erros. As decisões serão compartilhadas com os demais colegas de Mesa Diretora e com os líderes. Silvana também quer trabalhar para que mais mulheres se interessem por fazer política partidária.
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Para manter azeitada a máquina de fazer votos em que se transformou o nome Covatti na região do Alto Uruguai e arredores, a deputada manteve nos últimos anos uma rotina que explica o sucesso eleitoral da família. Sai de Porto Alegre na quinta-feira e retorna domingo.
Chega a fazer 2,8 mil quilômetros por fim de semana, atendendo a todo tipo de convite: casamento, batizado, celebração religiosa, romaria, festa regional, exposição agropecuária, baile de debutantes, reunião de clube de mães, chá de mulheres, encontro de casais, reunião de prefeitos e vereadores. Não raro, tem de almoçar e jantar duas vezes no mesmo dia, para dar conta dos convites.
- A gente não pode descuidar da base, nem aparecer de quatro em quatro anos para pedir voto. É importante ouvir as pessoas - ensina.
Quando os compromissos são muitos, os Covatti se dividem: Silvana vai para um lado, o marido para outro e o filho Luiz Antônio, estreante na política que se elegeu deputado federal graças ao prestígio da família, vai para outro.
- Não perco romaria na nossa região e caminho sempre com os romeiros - conta a deputada, devota de Nossa Senhora Aparecida, cursilhista e adepta dos Encontros de Casais com Cristo.
O lazer da família se resume a esses eventos. Cinema, quase nunca. Leitura, muito pouca (está lendo Muito Além do Tempo, de Alexandra Munir). Happy hour ou jantar fora quando está em Porto Alegre, nem pensar. Silvana se define como caseira. Não tem empregada doméstica (apenas uma diarista) e se considera meio nômade. São três noites da semana em Porto Alegre e as outras dormindo em Frederico Westphalen, Ijuí ou Passo Fundo.
Às vezes sente falta da rotina de dona de casa - arrumar armários, organizar as roupas por cor é sua válvula de escape para as atribulações da política. Cozinhar, só o básico - nada além de uma massa ou de um arroz com galinha.
Gabinete é repleto de imagens sacras
Há anos, os Covatti cultivam uma tradição: distribuir rosas na véspera do Dia das Mães. São milhares, de todas as cores. Silvana prefere as amarelas. Esse tipo de relação direta com o eleitor, somada aos albergues que a Fundação Nossa Senhora Aparecida mantém em Passo Fundo, Porto Alegre e Ijuí, para receber familiares de pacientes internados nos hospitais completam a receita dos Covatti para o sucesso eleitoral do clã.
Como os abrigos são questionados pela Justiça Eleitoral, Covatti encontrou a saída perfeita: ele, que não tem mandato, cuida da Fundação Nossa Senhora Aparecida e coleciona endereços de pessoas agradecidas pela estadia gratuita em suas pousadas quando enfrentam problemas de doença na família.
Repleto de imagens sacras, o gabinete de Silvana é um retrato de suas crenças e dessa relação estreita com eleitores. O entra e sai é permanente. Quem chega é recebido com chimarrão por assessores que anotam os pedidos - de emprego a soluções para problemas de saúde. A deputada responde a todos com sim ou não.
- Não gosto de deixar ninguém sem resposta - justifica.
A posse, nesta quarta-feira, está programada para ser uma cerimônia tradicional, sem invenções. O diferencial, acredita Silvana, será a presença do público. Pelas últimas contas de sua assessoria, mais de 1,3 mil pessoas virão do Interior, em ônibus, para acompanhar a posse, mesmo que seja pelos telões que transmitirão o ato para o Teatro Dante Barone e o plenarinho. Silvana se orgulha de, na última eleição, ter feito votos em 493 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul.
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