Porto Alegre amanheceu no sábado impressionada pela dimensão do estrago provocado pelo forte temporal, com ventos de até 119 km/h, da noite de sexta-feira. O impacto mais visível da destruição era a quantidade de árvores, galhos e placas de lojas caídos nas ruas e moradias.
Em um dia de limpeza, o instrumento mais utilizado foi a vassoura – em seguida, facões para cortar galhos das árvores caídas. A ausência mais sentida era a energia elétrica. Até as 8h da manhã do sábado, havia 328 mil clientes sem luz na Grande Porto Alegre, a maioria na Capital, segundo a CEEE. Duas subestações da companhia passam por reparos.
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Na Redenção, mais de 30 barracas destruídas
CEEE tenta restabelecer energia no final de semana
Bela Vista, Centro, Cidade Baixa, Higienópolis, Menino Deus, Petrópolis, Rio Branco e parte do Jardim Botânico são os bairros mais atingidos. Diante de geladeiras com alimentos perecíveis, moradores se perguntaram quando a luz voltaria aos lares. Segundo a CEEE, a previsão mais otimista era que a energia fosse restabelecida ainda durante o final de semana.
Quem precisou se deslocar na cidade, enfrentou dificuldades. Além de galhos e árvores bloqueando diversas ruas, os semáforos não funcionavam. A tempestade também provocou a queda do sistema da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) da Capital, dificultando os atendimentos. O estrago foi tamanho que a companhia admitiu que não tinha como dimensionar os efeitos. Integrantes de CEEE, EPTC, Defesa Civil e outros órgãos da prefeitura se reuniriam na manhã de sábado para traçar um plano conjunto de ações.
Meteorologistas têm diferentes explicações para o fenômeno
Instituições de meteorologia têm diferentes explicações quanto à classificação do fenômenos que atingiu a capital gaúcha. Segundo o Inmet, houve uma tempestade violenta formada pela combinação de calor excessivo da atmosfera e pressões muito baixas. Para o Metroclima, formou-se uma supercélula de tempestade devido ao calor que chegou a 39,3ºC em Porto Alegre. O temporal atingiu a cidade por volta de 22h de sexta-feira. O Metroclima destacou que o fenômeno foi incomum pela violência e longa duração – quase uma hora.
É considerada uma das mais intensas das últimas décadas no município. A rajada máxima medida foi de 119,5 km/h no bairro Jardim Botânico. No aeroporto Salgado Filho, os ventos chegaram a 87 km/h.Em funcionamento precário, hospitais receberam pessoas feridas. No Hospital de Pronto Socorro (HPS), pelo menos 53 pacientes deram entrada entre as 23h de sexta e as 2h de sábado com ferimentos – segundo informações preliminares, a grande maioria relacionada a quedas de objetos ou estilhaços. Uma ala foi criada para prestar os primeiros atendimentos.
Foi para lá que seis pessoas feridas foram deslocadas depois que duas portas grandes de vidro do Shopping Praia de Belas foram arrancadas com o vento e partes do telhado desabaram. Ficaram feridos cinco funcionários da segurança e um jovem que estava no local e tentou ajudar a segurar as portas. Ele precisou levar 20 pontos nos braços e nas pernas.
No Hospital de Clínicas, setores essenciais operam com gerador, mas o funcionamento completo foi comprometido. A instituição deixou de aceitar pacientes via o Samu e a administração pedia à população para não procurar a emergência. Os efeitos também foram sentidos em outras partes da cidade. Uma tradicional embarcação usada para o turismo fluvial na Capital, o Cisne Branco, virou e ficou quase todo submerso. Conforme o sargento Carlos José da Silva Costa, do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre, o barco não se desprendeu, apenas virou com a força dos ventos e das ondas no Guaíba:
– O Cisne Branco está totalmente afundado. Volta e meia ele sobe e para ao lado do cais.
No momento da tempestade, não havia passageiros ou tripulantes a bordo. Apesar dos transtornos causados, de positivo, até a manhã de sábado não havia registro de saques. Logo após o começo da tempestade, surgiram relatos de depredações na Avenida Azenha e vias próximas, na Capital. O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Marcus Vinícius, informou que há alguns estabelecimentos comerciais com estragos na região, mas que os prejuízos foram provocados pelo próprio temporal:
– Há lojas e até agências bancárias com vidraças quebradas e outros danos, mas não foram registrados saques.
Os efeitos da violência da tempestade se impôs nas conversas de quem estava na Capital. A artesã Silvia Lucena, de Taquara, que participa da feira junto ao Parque da Redenção contou que se assustou com o impacto da destruição:
– Nunca tinha visto nada assim na Redenção.
Perto dali, dois feirantes conversavam, tentando definir o fenômeno responsável por tantos estragos.
– Foi vento, né? – comentou um deles.
– Vento? Foi um tufão! – respondeu o artesão Douglas Menezes.