Ao atingir nomes de proa do PMDB, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e os ministros Henrique Eduardo Alves (RN) e Celso Pansera (RJ), a Operação Catilitárias, deflagrada nesta terça-feira, amplia o desgaste da tumultuada relação do partido com o governo Dilma Rousseff. O clima preocupa o Palácio do Planalto, empenhado em derrubar a ameaça de impeachment. Entre os alvos, também estavam aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).
Na avaliação de petistas, a situação reforça as diferenças entre as biografias de Dilma e Cunha, denunciado no Supremo Tribunal Federal por corrupção e com risco de perda de mandato no Conselho de Ética. No Planalto, ficou a percepção de que a operação também desgasta a figura do vice Michel Temer, por centrar suspeitas no PMDB, que se apresenta como alternativa de poder. Contudo, fica o temor pela instabilidade no Congresso, que passa pela relação com o PMDB. Há o receio de que o partido deixe de lado suas divergências e feche em favor da saída do governo, como pregou Cunha.
Em coletiva, o presidente da Câmara afastou a chance de renunciar ao cargo e acusou a Procuradoria-Geral da República (PGR) de poupar o PT e o governo de "revanchismo":
- Estou dizendo desde março que fui escolhido para ser investigado. Sou desafeto do governo, todos sabem disso, e me tornei mais desafeto ainda à medida que dei curso ao processo de impeachment. Tem alguma coisa estranha no ar.
Saiba o que pesa contra Cunha, Renan e outros alvos da Catilinárias
O PT e o Planalto evitaram o confronto. O governo distribuiu nota oficial dizendo esperar que os fatos "sejam esclarecidos o mais breve possível, e que a verdade se estabeleça", incluindo os ministros.
- É a prova de que as instituições funcionam. O governo não interferiu nem vai interferir nas ações da Polícia Federal - disse José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.
A tentativa de Cunha de pregar uma disputa entre PMDB e PT não ganhou eco com Temer, que passou o dia em reuniões, acompanhado do ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS). O vice disse a deputados que a operação ocorreu dentro da "legalidade". Seus esforços estão concentrados na liderança da bancada do partido da Câmara, com a manutenção de Leonardo Quintão (MG) na vaga de Leonardo Picciani (RJ). Se o Planalto insistir em fomentar a volta de Picciani, o PMDB ameaça antecipar a convocação da executiva nacional para janeiro a fim de anunciar a saída do governo.
A medida seria um "sinal verde" para avançar no impeachment.
Além de Cunha, PF fez buscas na casa de Lobão e dois ministros do PMDB
Entre os caciques do partido, Renan é quem mais preocupa o Planalto e a cúpula petista.
A Catilinárias ampliou o cerco ao presidente do Senado, alvo de cinco inquéritos. O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado foram alvos dos mandados da operação, que também realizou buscas na sede do PMDB em Alagoas - ele preside a legenda em seu Estado.
Renan ficou incomodado com a revelação de que a PGR solicitou buscas na residência oficial da presidência do Senado, pleito negado pelo ministro Teori Zavascki. O peemedebista se sentiu desafiado. Ele é considerado vital na estratégia petista para conter o impeachment.
Cunha nega renúncia, prega que PMDB deixe o governo e ataca o PT
No julgamento de hoje no Supremo Tribunal Federal (STF), o Planalto aposta que os ministros vão deixar com o Senado a palavra final sobre o afastamento temporário da presidente caso o processo passe na Câmara. O escudo do Senado só funciona com adesão de Renan, mas interlocutores dizem que ele seguirá a "posição do PMDB". Ontem, o parlamentar procurou agir com naturalidade. Enquanto a residência oficial de Cunha era vasculhada, Renan participou de uma missa natalina no Congresso. À tarde, tocou a pauta de votações. Em entrevista, negou envolvimento na Lava-Jato:
- Já prestei todas as informações que me foram pedidas.