Com o furor de ter tomado posse no dia 10 e já na primeira semana revirando do avesso a essência administrativa da Argentina kirchnerista, o presidente Mauricio Macri assume o status de referência dos liberais latino-americanos e, também, de quem simplesmente se opõe aos excessos intervencionistas na região. É possível elencar 15 mudanças profundas que Macri implementou em apenas sete dias de governo.
Os sinais de certa idolatria macrista que começa a se consolidar, principalmente entre os liberais, vêm até de Porto Alegre. Na segunda-feira, a diretoria do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) anunciou ter convidado o presidente da Argentina para participar do Fórum da Liberdade. O evento está confirmado para os próximos 11 e 12 de abril, no Centro de Eventos da PUCRS. Quem entregou o convite foi o associado Estevão Ceolin.
- Percebemos novos ares e mudança de ânimo - comenta Ricardo Heller, presidente do IEE.
Macri tem sido elogiado até por supostos aliados da antecessora Cristina Kirchner, os presidentes centro-esquerdistas de perfil moderado Dilma Rousseff (Brasil) Tabaré Vasquez (Uruguai). Pelo menos em dois pontos, ele soa como boa nova para os vizinhos: a remoção de entraves a importações e exportações e a troca das restrições de Cristina por um apoio explícito do novo governo argentino a um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). A primeira viagem internacional de Macri foi ao Brasil, mesmo antes da posse. No Planalto, ele deixou boa impressão. Foi aplaudido com discrição. Na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a mais importante entidade empresarial do país, o então presidente eleito foi ovacionado.
O economista Fábio Giambiagi define o momento vivido pela Argentina como o de "ver Cristina pelas costas". Diz que investidores esperavam a saída da agora ex-presidente para apostar nos ativos do país, vistos como acessíveis.
Macri intervém em órgão regulador de meios de comunicação na Argentina
Um dos setores argentinos mais otimistas com Macri é o rural, que passou todo o segundo mandato da presidente brigando com ela. Agora, vive sua "lua de mel" com Macri, que cumpriu a promessa de campanha e assinou decreto para a redução de 35% para 30% do imposto de exportação da soja e isenção total para carne, milho, trigo, girassol e economias regionais. O setor já prepara o aumento da área de plantio desses produtos. Com isso, Macri poderá resolver um dos seus problemas mais prementes, a escassez de dólares nos cofres públicos. Os produtores tendem, agora, a liquidar contratos de exportação de grãos estocados e, com isso, ajudar a atrair divisas.
Cuidados para não mexer nos programas sociais
Márcio Coimbra, advogado e sócio da Governale - Políticas Públicas e Relações Institucionais, diz que a eleição de Macri "representa uma mudança de fundo na política do país e também na região", a começar pelo movimento de denunciar a Venezuela em razão das prisões políticas efetuadas pelo presidente Nicolás Maduro. No âmbito interno, segundo Coimbra, Macri deve desregulamentar setores engessados pelas políticas protecionistas peronistas dos anos Kirchner", e "a Argentina em breve estará reaberta ao universo do comércio internacional".
Após uma semana no poder, Macri aposta na abertura econômica
Os analistas, porém, ponderam que o presidente terá dificuldades para implementar o seu jeito de governar. Muitos argentinos o veem com desconfiança, por relacioná-lo ao ultraliberal ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), responsável pela mais grave crise da história do país. Os programas de transferência de renda criaram vínculos fiéis com o governo anterior. Por isso, Macri anunciou que não vai mexer em programas sociais e até já aumentou os valores repassados por alguns deles.
Outro empecilho: sem maioria na Câmara e no Senado, Macri terá de costurar uma difícil base parlamentar. Para tanto, tentará atrair até mesmo kirchneristas ressentidos pela ausência da antiga líder. E apostará em uma aproximação com os governadores, não diferenciando aliados e peronistas, com o objetivo de atraí-los. Na área sindical, por temer perdas na renda em razão das alterações na política cambiária, já há um esboço de reunificação para reivindicar abono salarial que compense a maxidesvalorização decorrente da unificação do câmbio.