Mauro Hoffmann falou por mais de cinco horas nesta quinta-feira e direcionou as causas da tragédia na Boate Kiss, que causou a morte de 242 pessoas em janeiro de 2013 em Santa Maria, ao uso de artefatos explosivos pela banda Gurizada Fandangueira e à omissão das autoridades que fiscalizaram a casa noturna, principalmente o Ministério Público (MP).
Ex-sócio de Elissandro Spohr, o Kiko, ele foi interrogado no Foro Central de Porto Alegre e disse que o incêndio na Kiss poderia ter sido mais grave se não fossem as adequações realizadas na boate depois que ela foi adquirida por Elissandro. Hoffmann garantiu que todos os documentos e as exigências para o funcionamento da Kiss estavam em dia no dia 27 de janeiro daquele ano:
- Falar agora é fácil. Estava tudo aprovado, tudo certo. Eu estou aqui porque confiei no Ministério Público. A última palavra que precisava foi dada através de um termo assinado (o TAC). O acidente teria sido muito mais violento com a planta original. O que motivou o incêndio foi o fogo de artifício. Sem ele, ninguém estaria nessa situação.
O empresário, que respondeu a todas as perguntas e manteve a calma durante o interrogatório inteiro, falou que seu envolvimento com a administração da boate era somente financeiro, e que ele era informado por Kiko sobre os aspectos legais do estabelecimento. Hoffmann investiu R$ 200 mil em uma parcela inicial para a sociedade e pagaria o restante em prestações para obter o lucro desejado em até 20 meses. Depois, partiria para outro negócio.
Ele havia sido notificado pela administração do shopping Monet Plaza de que teria de transferir o Absinto Hall, seu principal empreendimento, para outro local, e por isso resolveu comprar parte da Kiss. O empresário não se envolvia com a rotina da boate porque, de acordo com ele, a família de Kiko formava uma equipe que tocava o dia a dia.
Sua relação mais intensa, em termos profissionais, era com Angela Callegaro, irmã de Elissandro, que cuidava da parte financeira. Com Kiko, era uma amizade que ia além da parceria comercial.
- Nunca me senti dono. Nem a chave eu tinha para entrar e não participava das reuniões. Nos meus negócios, sempre tentei ser o mais organizado e correto possível. A aquisição da Kiss foi uma estratégia de mercado, e optei por comprá-la porque já havia uma família que administrava - argumentou.
Sem poder de decisão
Um dos pontos mais explorados do interrogatório era o quanto Hoffmann influenciava em questões como escolha das bandas que tocavam e os materiais utilizados em shows na Kiss. Ele salientou que não tinha poder de decisão e que se preocupava quase que exclusivamente com o Absinto, apesar de frequentar a Kiss em determinadas ocasiões.
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Mauro Hoffmann relatou que Elissandro Spohr sempre estava às voltas com engenheiros para reformas e adequações, e disse que a espuma que provocou a morte da maioria das pessoas era permitida pelos órgãos fiscalizadores. Ele estava tranquilo depois que foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP para melhorias na boate:
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- Eu acreditava que os órgãos tinham condições técnicas para as vistorias. Sempre vi os extintores de incêndio e as luzes de emergência e os alvarás nas paredes. Sobre a porta de saída, se fosse pedida uma outra, tenho certeza de que o Kiko faria.
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Pela primeira vez, os quatro réus do Caso Kiss estiveram juntos no mesmo interrogatório. A estratégia da defesa de Hoffmann esteve afinada com a de Kiko e foi de encontro principalmente à de Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira.
O advogado de Santos, Omar Obregon, questionou o empresário sobre o uso de artefatos explosivos pela banda em outros shows e Hoffmann negou veementemente ter conhecimento disso. Ele falou que não concordaria se soubesse.
- É óbvio que ninguém imaginou que um artefato de fogo quente seria usado num teto de três metros de altura- concluiu.
Este foi o último interrogatório do Caso Kiss. Agora, o juiz Ulysses Louzada irá pronunciar a sentença, ainda sem data confirmada, e determinará se os réus vão a júri popular ou não. Cerca de 20 familiares das vítimas estiveram presentes, mas não houve manifestações de repúdio à fala de Mauro Hoffmann.
Veja como foi a transmissão do depoimento:
* Zero Hora